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Perspectiva em Davos: preço do petróleo vai de mal a pior

Javier Blas e Grant Smith

21/01/2016 15h25

(Bloomberg) - O primeiro mantra da crise do petróleo era "mais barato por mais tempo". Depois, passou a ser "mais barato por mais tempo ainda". Agora, em Davos, os executivos do setor estão começando a falar - ou melhor, a sussurrar - sobre um novo cenário de pesadelo: "Muito mais barato por muito mais tempo".

Executivos do setor petroleiro, autoridades financeiras e banqueiros disseram nos dois primeiros dias do Fórum Econômico Mundial que vai ser difícil uma recuperação em 2016, pois os grandes produtores continuam bombeando e o apetite chinês por combustível está diminuindo.

"Este é o terceiro ano consecutivo em que há mais oferta do que demanda", disse Fatih Birol, diretor-executivo da Agência Internacional de Energia (AIE), a Francine Lacqua em uma entrevista à Bloomberg Television. "Os preços vão continuar sob pressão. Eu não vejo nenhuma razão para um aumento surpresa dos preços em 2016".

Volta do Irã ao mercado

O fim das sanções ao programa nuclear do Irã, no dia 16 de janeiro, liberou o país-membro da Opep - que já foi o segundo maior produtor do grupo - para reativar as exportações de petróleo, reduzidas à metade durante os quase quatro anos de restrições. Ávido por recuperar a receita perdida, o país do Golfo Pérsico deu a ordem de restabelecer a produção diária de 500.000 barris o quanto antes.

"O fim das sanções impostas ao Irã, na minha opinião, vai continuar aumentando a oferta, então não acho que os preços do petróleo cheguem ao fundo do poço e voltem a subir em breve", disse o presidente do conselho do UBS Group, Axel Weber. Os preços em baixa dão ainda mais incentivos aos concorrentes do Irã, como a Arábia Saudita, líder da Opep, para continuar bombeando, disse ele.

Cortes sem precedentes nos gastos em novas ofertas - uma redução de 16% nos investimentos deste ano na sequência do corte de 20% do ano passado - estão preparando o cenário para uma recuperação, que não se materializará antes de 2017, prevê Birol, da AIE. A escala dos cortes de gastos significa que a recuperação será muito mais difícil quando chegar, de acordo com a Crescent Petroleum.

"Isso terá um impacto no futuro, tornando o ciclo mais extremo", disse Majid Jafar, CEO da Crescent, que tem sede nos Emirados Árabes Unidos, em uma entrevista.

Perspectiva da Sabic

É mais provável que a recuperação ocorra no segundo semestre de 2017 do que no primeiro, quando o crescimento econômico chinês melhorar, de acordo com Yousef Al-Benyan, CEO da Saudi Basic Industries Corp. A Sabic é a maior empresa de capital aberto do Oriente Médio e está entre os cinco principais grupos petroquímicos do mundo.

"Há muita pressão no lado da oferta", o que impede que aconteça uma recuperação agora, disse Al-Benyan. "O segundo semestre de 2017 será o momento da recuperação".

No entanto, o petróleo bruto não vai voltar aos níveis registrados nos anos de boom, disse Daniel Yergin, vice-presidente do conselho da empresa de consultoria IHS. Os preços do petróleo provavelmente serão "melhores do que os de hoje" no segundo semestre de 2016, mas "não chegarão a US$ 100, nem a US$ 70, nem a US$ 60", disse Yergin.

Para Jafar, da Crescent, "US$ 50 é uma possibilidade". É quase metade do valor em que o petróleo era negociado há apenas 18 meses.

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