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Reestruturação da Petrobras deixa funcionários ociosos

Sabrina Valle e Carlos Caminada

29/01/2016 15h24

(Bloomberg) -- Dentro da nova Petrobras –menos ambiciosa e mais dedicada a corte de custos– a vida de muitos dos funcionários desacelerou. Em alguns casos, de modo alarmante.

Um exemplo é o caso do engenheiro que recentemente perdeu o título de gerente e foi obrigado a aceitar uma redução salarial de 40%. Hoje em dia, ele passa grande parte do tempo lendo jornais em um escritório quase deserto, sem receber tarefas apesar dos protestos.

Com dois filhos e um grande crédito imobiliário para pagar, ele espera que a gigante estatal ofereça um novo pacote de demissão.

Outra gerente está preocupada com seu futuro na empresa. O salário dela também diminuiu –quase pela metade– e todos os projetos em que ela trabalhava foram abandonados. Ela passa o dia no Facebook e em outros sites.

Os dois funcionários, que pediram anonimato porque temem perder o emprego, são alguns dos vários entrevistados que descreveram situações semelhantes. Embora essas descrições provavelmente não se apliquem à maioria dos funcionários, os cortes claramente estão gerando uma sensação de angústia entre os afetados. 

Há dois anos, a Petrobras ainda previa um agressivo plano de investimento de cinco anos que custaria US$ 237 bilhões e daria trabalho para muita gente.

Neste mês, a empresa reduziu o montante para menos da metade e, na quinta-feira, disse que fundirá unidades e cortará o número de gerentes, o que permitiria reduzir seus salários. O objetivo: economizar R$ 1,8 bilhão (US$ 440 milhões) por ano.

Impacto econômico

Como o preço do petróleo está rondando o patamar mais baixo em 12 anos, poucos acreditam que a redução de custos - que começou em 2015 - acabará em breve. Isso está gerando novas perguntas sobre a cultura da maior empresa do Brasil e seu efeito em uma economia que depende da produtora estatal para quase 10% do investimento.

"O impacto dos cortes de investimento da Petrobras é enorme para a economia do Brasil e para o mercado de trabalho em geral", disse José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, em uma entrevista por telefone. "Os fornecedores da empresa vão de mecânica a serviços, de construção a alimentação".

O colapso dos preços do petróleo bruto, a maior dívida do setor e o escândalo de corrupção que colocou na cadeia alguns dos ex-diretores da Petrobras e levou fornecedores a pedirem recuperação judicial fizeram com que a ação da Petrobras tivesse o pior desempenho entre as grandes empresas de petróleo nos últimos 12 meses, com uma queda de 49%.

'Absoluto estresse'

A Petrobras agora tem cerca de 80 mil funcionários, quase quatro vezes o pessoal da empresa norueguesa Statoil, cuja produção de petróleo e gás é apenas 30% menor, de acordo com dados compilados pela agência de notícias Bloomberg.

A Petrobras também empregou 128 mil empreiteiros até junho de 2015, de acordo com os últimos dados disponíveis. Em 2015, na primeira rodada de redução de custos, a empresa desligou mais de 6.000 funcionários próprios e 60 mil terceirizados. 

Centenas de gerentes de áreas extintas enquanto a empresa foca no pré-sal já foram rebaixados. Agora, se sabe que cerca de 1.500 perderão o cargo de chefia.

Na última quinta-feira (28), a Petrobras disse que reduziria em cerca de 30% seus 5.300 cargos de gerência em áreas não operacionais e que fundiria as unidades de Abastecimento e de Gás e Energia.

As mudanças serão submetidas à aprovação dos acionistas e a primeira etapa das demissões deve ser concluída em aproximadamente um mês, disse a empresa.

"O cenário é de total estresse", disse o presidente Aldemir Bendine aos repórteres depois do anúncio. "A empresa precisa se adaptar".

Mais demissões

O diretor financeiro Ivan Monteiro disse neste mês que seriam necessárias mais demissões. A Petrobras está reduzindo os postos de trabalho em todas as áreas por causa dos cortes de investimento, disse a companhia em uma resposta a perguntas enviadas por e-mail.

Bendine disse que a empresa está buscando vender ativos "a toda velocidade" para captar dinheiro para investimentos.

A Petrobras está se preparando para que os preços do petróleo caiam para apenas US$ 20 por barril e seus principais projetos em águas profundas continuam sendo muito competitivos apesar da queda dos preços, disse Bendine.

Os projetos da região do pré-sal, que guardam os maiores descobrimentos de petróleo bruto do Brasil, continuarão sendo prioritários no novo modelo de negócios, disse ele.

"Já trabalhamos com Brent baixo", disse Bendine. "Não é o fim do mundo".

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