IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Se a ausência de alta de juros pelo Banco da Inglaterra até 2018 parece loucura, que tal um corte?

Scott Hamilton

03/02/2016 16h37

(Bloomberg) - Eis uma pergunta que nunca achamos que surgiria em 2016: O Banco da Inglaterra vai cortar os juros?

Os preços dos ativos começam a embutir uma política mais frouxa pela autoridade monetária britânica e as expectativas do mercado em torno do primeiro aumento nos custos de captação desde a crise financeira foram adiadas para 2018.

Assim, as questões não mais se concentram em quanto tempo os juros serão mantidos e passaram a aventar se a próxima decisão será um corte da taxa básica.

A decisão do Banco do Japão na semana passada de baixar os juros para território negativo renovou as especulações sobre a possibilidade de um movimento similar no Reino Unido.

"Não é loucura imaginar que o Banco da Inglaterra possa cortar os juros, mas com as condições econômicas razoavelmente sólidas, eu genuinamente não vejo razão para isso", disse Peter Dixon, economista do Commerzbank AG em Londres.

"Acho um exagero. Este mercado está embutindo nos preços o pior cenário econômico possível para todo lugar."

Os investidores vão estar de olho em qualquer sinalização do comandante da instituição, Mark Carney, quando ele apresentar as projeções mais recentes do banco central na quinta-feira.

É provável que ele reduza as estimativas para o crescimento no curto prazo e a inflação em um contexto de enfraquecimento da economia global, indicando que os custos de captação no Reino Unido não subirão tão cedo do atual patamar de 0,5 por cento, o menor em registro.

Dados divulgados na quarta-feira mostraram que a confiança entre empresários do setor britânico de serviços caiu para o menor nível em três anos no mês passado.

Momento das decisões

Com a piora das perspectivas, as expectativas do mercado mudaram drasticamente no último mês e a curva de juros de curto prazo agora implica alta de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros no segundo trimestre de 2018.

Ainda em 4 de janeiro, os operadores esperavam elevação de juros em novembro de 2016. Os contratos a termo são negociados abaixo de 0,5 por cento até o segundo trimestre de 2017.

Os preços de mercado atualmente atribuem 30 por cento de chance a um corte de juros pelo Banco da Inglaterra nos próximos 12 meses, de acordo com economistas do Morgan Stanley como Jacob Nell e Melanie Baker, que trabalham em Londres.

"É difícil justificar isso", eles escreveram em relatório enviado a clientes. "Suspeitamos que os atuais níveis de preços são mais determinados por expectativas amplas de que bancos centrais de mercados desenvolvidos precisarão afrouxar mais suas políticas, portanto as apostas para o Comitê de Política Monetária podem permanecer elevadas por algum tempo, independentemente dos fundamentos econômicos."

A autoridade com maior inclinação a começar a pedir afrouxamento pode ser o economista-chefe Andy Haldane. Em novembro, ele afirmou que as autoridades precisam estar prontas para "tirar um dos pés, dependendo da direção dos dados".

Na terça-feira, dois ex-integrantes do Banco da Inglaterra - John Gieve e Marian Bell - expressaram dúvidas sobre a possibilidade de redução dos juros, afirmando que a situação precisaria piorar muito mais para justificar tal movimento.