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No Japão, bebê de deputados exibe divisão sobre licença-paternidade

Isabel Reynolds e Maiko Takahashi

08/02/2016 11h28

(Bloomberg) -- Kensuke Miyazaki pretende tirar algumas semanas de licença do trabalho agora que sua esposa deu à luz ao primeiro filho do casal. Alguns dos colegas e superiores dele estão descontentes.

Essa é uma situação familiar difícil nos ambientes de trabalho em todo o Japão, mas desta vez está ocorrendo no Parlamento, onde Miyazaki e sua esposa, Megumi Kaneko, atuam como deputados do Partido Liberal Democrata, governista. Miyazaki, 35, seria o primeiro membro do Diet, o Congresso japonês, a tirar uma licença-paternidade.

"Para ser sincero, eu não esperava tanto alarde", disse Miyazaki com os olhos cheios de lágrimas em entrevista em seu escritório, na sexta-feira, horas após o nascimento do bebê em um hospital de Tóquio.

"Nós dois trabalhamos e somos completamente iguais em termos de status", disse ele. "Eu acho que nós não deveríamos manter o antigo sistema no qual tudo recai sobre a esposa".

Como o mercado de trabalho está envelhecendo e encolhendo, o primeiro-ministro Shinzo Abe tem defendido que os homens se envolvam mais no cuidado dos filhos para ajudar a possibilitar que suas esposas continuem no trabalho após a maternidade.

O governo deverá anunciar novas medidas nos próximos meses para tentar aumentar a taxa de natalidade e ajudar as mulheres, os idosos e os deficientes físicos a permanecerem no mercado de trabalho. Se as tendências atuais não forem revertidas, a mão de obra japonesa poderá cair mais de 40% até 2060.

Há um longo caminho a percorrer. Em 2014, apenas 2,3% dos trabalhadores do sexo masculino qualificados aproveitaram as generosas leis que permitem que tirem até um ano de licença, com quase 60% do salário pago por um sistema de seguro para o emprego.

As mulheres têm direito a benefícios similares, além de seis semanas de licença-maternidade paga antes do nascimento.

Embora as parlamentares possam tirar licença das audiências do Congresso para dar à luz -- e seis membros da Legislatura o fizeram até o momento --, não existe um sistema específico em vigor para que parlamentares do sexo masculino tirem a licença. A situação contrasta com a da Noruega, onde diversos ministros do Executivo saíram de licença.

Mesmo assim, uma pesquisa realizada pelo jornal Sankei no mês passado apontou que quase 54 por cento da população aprovava os planos de Miyazaki, enquanto 40% disseram que se opunham.

Os votos variaram de acordo com a idade: 80% das mulheres na casa dos 20 anos disseram apoiá-lo, enquanto a maioria dos homens com mais de 60 se mostrou crítica.

Críticos no partido

Entre os críticos de maior destaque está Sadakazu Tanigaki, 70, o secretário-geral do PLD. "O sistema de licenças para cuidados infantis basicamente se aplica a empregados", disse ele a repórteres em 8 de janeiro. "O autônomo não tem esse tipo de licença e eu acredito que os parlamentares são basicamente o mesmo".

Miyazaki planeja garantir que estará no Parlamento para as votações, mas passará os deveres do partido para um colega e evitará eventos em seu reduto eleitoral, em Kyoto, durante cerca de um mês depois de sua esposa Kaneko deixar o hospital, na semana que vem.

Ele reconheceu a preocupação com sua carreira e com a possibilidade de vencer a próxima eleição, já que as opiniões estão tão divididas em seu reduto quanto em outros lugares. Kaneko, uma ex-rainha da beleza, planeja permanecer longe do trabalho até o fim de março, disse ele.

Na semana passada, Renho, vice-líder do Partido Democrático do Japão, da oposição, criticou o casal por receber seus salários completos estando fora do trabalho -- algo que ela disse que seria "difícil de fazer os contribuintes entenderem".

O envolvimento dos homens no lar "é absolutamente necessário para o avanço das mulheres na sociedade e para solucionar a questão da taxa de natalidade baixa", disse Miyazaki.

"Precisamos fazer com que a licença-paternidade seja uma porta de entrada para isso. Se as pessoas entrarem no ritmo, elas poderão entender como lidar com seus filhos e cumprir as tarefas domésticas. Isso levará a uma mudança na maneira em que as pessoas trabalham".