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Dívidas bancárias de US$ 102 bi deixam investidores nervosos

Tom Beardsworth e Cordell Eddings

09/02/2016 13h46

(Bloomberg) -- A maior certeza do ano passado nos mercados de crédito está rapidamente se transformando no pesadelo deste ano para os investidores em títulos.

A dívida bancária europeia de maior risco gerou retornos de cerca de 8 por cento no ano passado, segundo dados de índice do Bank of America Merrill Lynch, superando todos os tipos de investimento em crédito globalmente.

Em menos de seis semanas deste ano, esses ganhos foram praticamente eliminados, mesmo após pagamentos de juros.

Os investidores estão cada vez mais preocupados de que os lucros frágeis e o colapso do mercado internacional dificultem a tarefa dos bancos de pagar os juros sobre pelo menos alguns desses títulos ou de recomprá-los tão cedo quanto os investidores esperavam.

Os títulos permitem que os bancos deixem de efetuar pagamentos de juros sem dar calote e se transformam em capital em tempos de estresse.

O Deutsche Bank poderá ter dificuldades para pagar os juros sobre esses títulos no ano que vem, apontou um relatório da empresa independente de pesquisa CreditSights na segunda-feira de manhã.

O banco adotou a medida incomum de dizer que tem capacidade suficiente para pagar cupons pelos próximos dois anos.

"Os temores em relação a esses títulos representam medos reais de que o sistema bancário europeu possa estar mais fraco e mais vulnerável à desaceleração do crescimento do que muita gente pensava originalmente", disse Gary Herbert, gerente de fundo da Brandywine Global Investment Management, que administra cerca de US$ 69 bilhões em ativos de renda fixa globais.

"É o epicentro das preocupações com o crescimento globalmente. E não parece bom", acrescentou.

Os temores dos gestores de recursos estão se espalhando até mesmo para títulos bancários mais seguros, o que ressalta como os investidores agora estão fugindo do risco em uma ampla faixa de ativos, das ações às commodities, passando pelos títulos corporativos.

O custo de proteção contra calotes das dívidas financeiras mais seguras dos EUA e da Europa, conhecidas como notas seniores sem garantia, trepou para o nível mais elevado desde 2013.

Os bancos europeus parecem estar menos sólidos que em seus últimos relatórios de lucros. O Deutsche Bank, por exemplo, registrou no mês passado o primeiro prejuízo em um ano cheio desde 2008 e suas ações despencaram.

As ações do Credit Suisse atingiram o nível mais baixo desde 1991 depois que o banco suíço registrou seu maior prejuízo trimestral desde a crise.

Os bancos emitiram cerca de 91 bilhões de euros (US$ 102 bilhões) das notas de maior risco, chamadas títulos adicionais Tier 1, desde abril de 2013.

O problema é que os títulos não foram testados e, se um banco com problemas não consegue resgatá-los na primeira oportunidade ou interrompe os pagamentos de cupons, os investidores poderiam abandonar o navio, desencadeando uma queda mais forte nos mercados de crédito corporativo.

Rendimentos altos

As notas foram emitidas na Europa e oferecem alguns dos rendimentos mais elevados dos mercados de crédito, a uma média de 7%, contra um rendimento médio para créditos europeus especulativos de menos de 6%, segundo os índices do Bank of America Merrill Lynch.

Mas os críticos dizem que os bancos são muito turvos, que as notas são complexas demais para serem compreendidas de forma apropriada, que são variadas demais e muito parecidas às ações para serem consideradas títulos. Com tantas incógnitas, os riscos são elevados.

"Basicamente, você tem a vantagem da renda fixa e a desvantagem da ação", disse Gildas Surry, gerente de portfólio da Axiom Alternative Investments. "Os AT1 são instrumentos de reguladores, feito por reguladores para reguladores".

Os investidores não temem apenas a possibilidade de que os bancos não cumpram os pagamentos de juros: outra preocupação é que os bancos resgatem as notas na primeira oportunidade.

Os custos crescentes dos empréstimos poderiam reduzir a probabilidade de que os bancos resgatem as notas, o que forçaria os investidores a manterem as notas por mais tempo do que esperavam.

"Este é um fator de risco que parece mais premente para o mercado", disse Jonathan Weinberger, chefe global de engenharia de mercados de capitais do Société Générale em Londres. "Permitir a extensão de certos títulos bancários seria economicamente mais vantajoso que fazer call e refinanciar".