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CORREÇÃO: Cortes do orçamento ameaçam submarino da Odebrecht

Fabiola Moura

12/02/2016 14h54

(Bloomberg) -- A prisão do presidente da Odebrecht no ano passado teve um alto custo para todas as partes da maior empreiteira da América Latina. Agora, sua unidade de defesa enfrenta outro obstáculo: um corte de 50 por cento do financiamento do governo para seu submarino nuclear.

A Odebrecht Defesa e Tecnologia é mais uma vítima da pior recessão do Brasil em um século, que derrubou a receita fiscal. Como os programas sociais são praticamente intocáveis, o Brasil está cortando gastos em despesas discricionárias, como os submarinos, para os quais o orçamento foi reduzido a quase metade nos últimos três anos.

A redução dos aportes já levou a construtora da Odebrecht a eliminar 38 por cento da força de trabalho no estaleiro e base de operações dos submarinos, perto do Rio de Janeiro. Talvez mais reduções estejam por vir, com o governo dedicando fundos para combater outras ameaças mais concretas ao País, como o vírus zika.

"Enquanto as restrições orçamentárias continuarem, o governo brasileiro terá que decidir em quais programas colocar dinheiro", disse George Ferguson, analista da Bloomberg Intelligence, em entrevista. "O programa de submarinos poderia sofrer cortes maiores, porque não há ameaças marítimas iminentes ao País".

O governo cortou cerca de R$ 80 bilhões (US$ 20 bilhões) em gastos do orçamento em 2015 e deve congelar outros R$ 25 bilhões neste ano, de acordo com uma fonte oficial familiarizada com as discussões e que pediu para não ser identificada porque não está autorizada a falar publicamente.

Parceiros internacionais

A solução por enquanto está nos parceiros internacionais. A Odebrecht Defesa e Tecnologia está perto de vender uma fatia da sua unidade Mectron, disse André Amaro, presidente da ODT, para capitalizar a empresa. O programa de submarinos está a cargo da ICN, outra unidade da ODT, que possui uma participação de 59 por cento no Prosub, enquanto a DCNS detém os 41 por cento restantes, de acordo com o site da ODT.

O corte orçamentário do Brasil "é inevitável, necessário e urgente", disse Amaro em entrevista por telefone. Vender uma participação na Mectron a um parceiro de tecnologia permitirá à ODT voltar "a ter capacidade de oferecer soluções para meu cliente no cenário atual".

A DCNS está confiante em relação ao programa brasileiro de submarino no médio e longo prazo, disse um porta-voz da empresa francesa por e-mail. A Mectron "adquiriu uma experiência consistente em diversos campos, que poderia interessar a participantes no Brasil e no exterior", de acordo com o e-mail.

Crise de crédito

Cerca de R$ 14 bilhões dos R$ 32 bilhões estimados para o projeto do submarino, que inclui quatro embarcações tradicionais e uma nuclear, já foram gastos, de acordo com a Marinha.

A empresa matriz da ODT, a Odebrecht, anunciou um congelamento dos novos investimentos no Brasil no ano passado, porque a crise de crédito restringiu o acesso ao financiamento depois que Marcelo Odebrecht, então presidente da empresa, foi preso em junho no maior escândalo de corrupção da história do Brasil. Odebrecht abandonou o cargo para se concentrar em sua defesa e continua na prisão. Ele negou qualquer irregularidade através de seus advogados.

A assessoria de imprensa da Odebrecht respondeu por e-mail que já estava se preparando para um cenário de menor disponibilidade de crédito em 2015 e priorizou os investimentos atuais em detrimento dos novos. "Apesar da restrição do crédito que todas as empresas brasileiras estão enfrentando, as empresas do grupo receberam mais de R$ 15 bilhões em operações contratadas com instituições financeiras em 2015 - os negócios ainda estão ocorrendo para a Odebrecht".

Título em inglês: Odebrecht's Submarine Dreams Threatened by Brazil Spending Cuts

--Com a colaboração de Andrea Rothman e Carla Simões.

Para entrar em contato com o repórter: Fabiola Moura em São Paulo, fdemoura@bloomberg.net Para entrar em contato com os editores responsáveis: Telma Marotto, tmarotto1@bloomberg.net Patricia Xavier