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Prejuízo do 'brexit' para Europa fortalece Cameron em semana decisiva

Ian Wishart e Simon Kennedy

15/02/2016 14h32

(Bloomberg) -- O primeiro-ministro David Cameron iniciou a última semana de negociações sobre o futuro da Grã-Bretanha na União Europeia com uma mensagem para seus pares do continente: o "brexit" também prejudicará vocês.

O argumento de que o bloco de 28 países ficaria mais fraco sem sua segunda maior economia rende influência a Cameron no momento em que ele se aproxima de um acordo para zerar os termos da adesão do Reino Unido antes de um referendo para decidir pela permanência no grupo.

Ainda há pontos de discórdia em relação a quais regras financeiras da zona do euro afetariam a Cidade de Londres, o distrito financeiro da capital britânica.

O ponto alto é uma cúpula de governo em Bruxelas, em 18 e 19 de fevereiro.

A perda da Grã-Bretanha prejudicaria a economia da Europa e poderia perturbar ainda mais os mercados financeiros da região depois que as ações dos bancos do continente tiveram seu pior início de ano desde 1987, pelo menos.

A retirada também ameaçaria a influência da UE minando a posição do clube mais rico do mundo nos fóruns internacionais e, ao mesmo tempo, ajudaria os populistas britânicos, que pressionam pela saída do Reino Unido.

"A ideia de que o Reino Unido poderia se separar do restante da UE e de que não haverá consequências mais amplas na Europa, de uma forma geral, é simplesmente fantasiosa", disse David Owen, economista da Jefferies International em Londres.

Negociações intensas

Desde que a UE publicou sua resposta às exigências do Reino Unido, no início do mês, Cameron e os altos representantes do bloco se envolveram em uma intensa rodada diplomática para fazer todos os demais 27 líderes endossarem o acordo.

Cameron quer continuar na UE, mas precisa vender isso ao Partido Conservador, do qual faz parte, e ao povo britânico.

Em discurso realizado em um jantar com a chanceler alemã, Angela Merkel, em Hamburgo, na noite de sexta-feira, Cameron se concentrou em afirmar que a permanência da Grã-Bretanha na UE era uma questão de segurança nacional.

A ideia foi repetida pelo secretário de Estado dos EUA, John Kerry, que disse no dia seguinte que uma saída britânica enfraqueceria a Europa justamente no momento em que o bloco precisa de força para lidar com os desafios do terrorismo e dos refugiados.

Se concluído, o novo acordo restringirá os benefícios de bem-estar social aos cidadãos da UE não britânicos que moram no Reino Unido, protegeria a indústria financeira britânica e concederia mais poderes aos parlamentos nacionais.

O acordo seria o primeiro passo para garantir que um país que normalmente defende o mercado de livre fronteira contra o protecionismo e que foi desde sempre um colaborador líquido do orçamento da UE permaneça a bordo.

O presidente-executivo do Commerzbank, Martin Blessing, disse na sexta-feira que a saída do Reino Unido seria o "sinal errado", política e economicamente, e que espera que "o senso comum britânico prevaleça no final". O presidente-executivo da Siemens, Joe Kaesersaid, disse no mês passado que a saída do Reino Unido seria uma "perda real" para a Europa.

Embora o Reino Unido não vá se separar imediatamente da UE em caso de se decidir pela saída, os prejuízos a curto prazo nos mercados financeiros poderiam abrir caminho para dificuldades mais a longo prazo devido à perda de uma das economias mais fortes do continente.

O FMI, por exemplo, prevê que o Reino Unido crescerá 2,2% neste ano, mais rapidamente que a taxa de 1,7% da zona do euro. No Société Générale, o economista Michel Martinez considera que a Grã-Bretanha é mais de duas vezes mais importante para as exportações da zona do euro do que a China.

De 2010 a 2014, os demais países do bloco tiveram um superávit comercial de cerca de 3% de seu produto interno bruto com o Reino Unido.

Isso significa que uma brexit reduziria a taxa de crescimento da zona do euro em cerca de 0,25 ponto percentual ao ano durante cinco anos, segundo Martinez. "É o suficiente para que o mercado de trabalho pare de melhorar", disse ele. "Isso provocaria um grande impacto".