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Fábricas secretas onde aparelhos iPhone vão morrer

Tim Culpan

17/02/2016 16h24

(Bloomberg) - Em uma fábrica dedicada a isso, com segurança 24 horas, em um lugar não revelado de Hong Kong, aparelhos de iPhone estão sendo destruídos com cuidado e meticulosidade.

Ela é uma das poucas fábricas espalhadas pelo mundo que foram escolhidas pela Apple para destruir e reciclar seus emblemáticos telefones. E assim como as fábricas que montam os aparelhos são submetidas a padrões rigorosos e sigilo, os mesmos critérios se aplicam às que desmontam, ao ponto de pesar os pedaços para garantir que nada se perca.

A Apple vendeu mais de 570 milhões de aparelhos iPhone desde aquela manhã de janeiro, há nove anos, em que Steve Jobs subiu no palco em São Francisco para "reinventar o telefone".

Nem a Apple sabe quantos desses telefones continuam pelo mundo afora - nas mãos de seu segundo, terceiro ou quarto dono, ou esquecidos dentro de uma gaveta. Mas a empresa quer garantir que a menor quantidade possível vá parar no lixão.

Essa é a missão da fábrica que fica em um parque industrial do distrito de Yuen Long, em Hong Kong, e pertence à Li Tong Group, que presta serviço para a Apple. É onde o iPhone, o iPad e o iMac vão para morrer.

Embora marcas internacionais, como HP, Huawei, Amazon e Microsoft, também tenham protocolos detalhados para reciclar seus produtos, os da Apple são os mais rígidos e exigentes, de acordo com pessoas envolvidas nos processos, que não quiseram ser identificadas porque não têm autorização para falar sobre seus clientes.

"Acho que as pessoas esperam isso da gente, acho que nossos clientes têm um alto grau de exigência conosco", disse Lisa Jackson, chefe de questões ambientais da Apple, em uma entrevista por telefone, da sede da empresa, em Cupertino, na Califórnia. "É difícil, porque as peças desses produtos são incrivelmente complexas".

Nem a Apple nem a Li Tong concederam acesso à fábrica em Hong Kong, não disseram quantas unidades ela recicla nem deram detalhes específicos do processo de desmontagem.

40 mil toneladas

No setor de reciclagem de produtos eletrônicos, a meta de referência é tentar coletar e reciclar 70 por cento, por peso, dos aparelhos produzidos sete anos antes. Jackson disse que a Apple supera esse número e costuma chegar a 85 por cento, reciclando inclusive alguns produtos de outras marcas fornecidos pelos clientes.

Isso significa que neste ano a Apple terá que obter e destruir o equivalente a mais de 9 milhões de aparelhos do modelo iPhone 3GS, de 2009, em todo o mundo. Como as vendas de iPhone subiram para 155 milhões de unidades no último ano fiscal, a destruição de produtos da Apple é um setor em crescimento.

A Apple disse que coletou mais de 40.000 toneladas de lixo eletrônico em 2014 dos aparelhos reciclados, incluindo aço suficiente para construir pouco mais de 160 quilômetros de estrada de ferro.

Sucata

A Brightstar Corp., com sede em Miami, na Flórida, a TES-AMM, de Cingapura, a Li Tong, de Hong Kong, e a Foxconn Technology Group, a mais famosa fabricante de iPhone, fazem parte de uma rede mundial de recicladoras que concordaram com mais de 50 regras - que vão desde a segurança ao seguro, passando por auditoria - relativas à destruição dos telefones.

O processo começa em centenas de lojas da Apple pelo mundo afora, ou na internet, onde a empresa oferece vale-presentes para convencer as pessoas que têm um iPhone a vender o aparelho de volta à Apple.

Após um teste rápido, a recicladora compra o telefone ou se oferece para desmontá-lo gratuitamente. Nos EUA, o pagamento por telefones que funcionam varia de US$ 100 pelo iPhone 4 de menor capacidade até US$ 350 pelo iPhone 6 de maior capacidade. Testes posteriores mais exigentes mostram se o aparelho pode ser revendido ou se deve ser sucateado.

A recicladora da Apple nos EUA não quis comentar, e Terence Ng, diretor da parceira TES-AMM, do sudeste asiático, não respondeu a mensagens enviadas por e-mail e telefone. Quando uma recicladora decide que um telefone deve ser sucateado, começa um processo de desconstrução notavelmente parecido com o modelo de produção da Apple, só que ao contrário.

Vida após reciclagem

Embora algumas marcas recuperem componentes, como chips que podem ser usados no conserto de telefones defeituosos, a política da Apple é a destruição total.

A Apple destrói os aparelhos para evitar que produtos falsificados com sua marca apareçam no mercado paralelo, disse Jackson. A empresa está desenvolvendo formas para reutilizar componentes no futuro, disse ela, sem dar mais detalhes.

E, depois de ter sido completamente despedaçado, o que acontece com seu iPhone velho? Os resíduos perigosos são armazenados em uma instalação autorizada e os parceiros de reciclagem podem cobrar uma comissão por outros materiais extraídos, como ouro e cobre. O restante reencarna como molduras de janelas e móveis de alumínio ou pastilhas de vidro.