IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Saída de capital apenas começou, dizem pessimistas sobre China

Bloomberg News

19/02/2016 15h48

(Bloomberg) -- Os pessimistas em relação ao yuan dizem que o rali deste mês não deveria ser encarado como um sinal de que a grande inversão nos fluxos de capital da China chegou ao fim. O Goldman Sachs Group alerta que qualquer nova depreciação surpresa irá apenas acelerar a saída.

A Daiwa Capital Markets, que previu os riscos de saídas de capitais já em 2014, diz que menos da metade dos US$ 3 trilhões em dívidas em dólares que terminaram na China foi paga. O Commerzbank disse que o recorde em novos empréstimos em yuan em janeiro mostrou que as empresas estão captando dinheiro para pagar mais dívidas no exterior. As vendas de bonds corporativos internos mais que dobraram neste ano, ao passo que a emissão externa em dólar caiu cerca de 30 por cento. O Goldman Sachs diz que houve US$ 550 bilhões em saídas de capital no segundo semestre de 2015 e que cada 1 por cento de desvalorização do yuan põe em risco mais US$ 100 bilhões.

A valorização do yuan no período de quatro anos até 2013 levou as empresas a tomarem empréstimos em dólares no exterior e usar o dinheiro para lucrar com uma moeda forte e com as taxas de juros mais elevadas na China. As apostas não diversificadas começaram a cair em 2014 quando a taxa de câmbio em relação ao dólar registrou a maior queda desde 1994. O rali de 0,9 por cento deste mês não dissuadiu os analistas de preverem uma queda de mais 3,4 por cento até o final do ano.

"Não chegamos sequer à metade" em termos de reversão do carry trade (operação de arbitragem), disse Kevin Lai, economista-chefe para a Ásia, excluindo o Japão, na Daiwa. "Meu principal foco não é a reversão, mas o carry trade às avessas. As pessoas estão assumindo novas posições para vender o yuan. Estamos falando de um cenário deflacionário massivo agora, algo que é muito ruim para o mercado, para a economia, para tudo".

Estimativas variam

A estimativa da Daiwa para o carry trade é elevada porque inclui o endividamento das empresas fora da China, como por exemplo em Hong Kong e Taiwan. Tommy Xie, economista do Oversea-Chinese Banking, estima as posições em torno de US$ 1 trilhão com base em dados do Banco de Compensações Internacionais e da Autoridade Monetária de Hong Kong. A dívida cambial total das empresas chinesas caiu cerca de US$ 140 bilhões no segundo semestre de 2015, para US$ 1,69 trilhão, incluindo empréstimos corporativos de bancos internos, estima o Goldman. Este total está bastante abaixo dos US$ 370 bilhões em saídas de capital de habitantes chineses que compraram moedas estrangeiras, disse o banco.

"Um dos riscos é que outros impactos sobre a confiança no renminbi e a percepção de incerteza em matéria de políticas possa complicar nitidamente a pressão das saídas de capitais e tornar muito mais efetiva qualquer tentativa posterior de estabilização", escreveu o Goldman em uma nota divulgada à imprensa em 26 de janeiro.

Aumento das saídas de capital

As saídas de capital da China subiram para US$ 1 trilhão no ano passado, segundo estimativas da Bloomberg Intelligence. É mais de sete vezes o montante de dinheiro que saiu do país em 2014. As expectativas de desvalorização do yuan irão acelerar a saída ainda mais neste ano, escreveu um pesquisador do State Information Center no Shanghai Securities News nesta semana, reduzindo a efetividade das ferramentas monetárias, como os cortes às taxas de juros e as proporções de reservas bancárias exigidas.

O aumento em novos créditos registrado em janeiro, para um recorde de 3,42 trilhões de yuans (US$ 525 bilhões), que foi causado por fatores sazonais e por uma mudança dos empréstimos no exterior para passivos em moeda local, pode ampliar os créditos inadimplentes em meio ao crescimento econômico mais lento em 25 anos. Os novos empréstimos em yuans subiram ao nível sem precedentes de 2,51 trilhões de yuans, enquanto a emissão doméstica de bonds atingiu um total de 2,8 trilhões de yuans até esta altura do ano. As vendas de notas em dólares de empresas chinesas caíram em 2015 em uma base anual pela primeira vez desde 2008, para US$ 220 bilhões, porque a captação doméstica de recursos se tornou mais barata.