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Para pessimistas sobre yuan, vem aí uma turbulência maior

Saijel Kishan

22/02/2016 14h35

(Bloomberg) -- Antes da desvalorização da China, em agosto, sacudir os mercados globais e levar alguns dos maiores nomes do setor de hedge fund a apostarem contra o yuan, um pequeno grupo de pesquisadores previu tudo.

Agora, alguns desses mesmos analistas alertam que há mais turbulência pela frente -- e não estão preocupados apenas com a China.

Jim Walker, da Asianomics Group, que previu que o avanço de quatro anos do yuan seria interrompido um mês antes de a moeda atingir o pico, em janeiro de 2014, está projetando uma recessão nos EUA e diz que os yields dos títulos do Tesouro de 10 anos chegarão a mínimas recorde. Raoul Pal, editor do relatório Global Macro Investor e pessimista em relação ao yuan desde 2012, diz que as ações dos bancos europeus cairão pela metade. John Mauldin, da Millennium Wave Advisors, que sustenta desde 2011 que a moeda chinesa deveria ser desvalorizada, enxerga um risco de intensificação da instabilidade geopolítica no Oriente Médio em um momento em que os preços mais baixos do petróleo pressionam os orçamentos dos países ricos em petróleo.

Os três analistas veem margem para mais declínios do yuan, mas também enfatizam os riscos fora da economia chinesa em um momento de queda na perspectiva para o crescimento mundial e em que as commodities são negociadas próximas aos níveis mais baixos em mais de 15 anos. A postura deles ganhou força nos mercados globais neste ano, com os preços das ações caindo em Nova York, Riad e Sidney devido à mudança dos investidores para o ouro e os bonds soberanos.

"Vem aí uma tempestade de problemas", disse Pal, ex-gerente de hedge-fund da GLG Partners que atualmente tem como clientes planos de pensão e fundos soberanos de investimento, em entrevista por telefone, das Ilhas Cayman. "O risco de um resultado muito ruim em 2016 e em 2017 continua sendo a probabilidade mais alta".

Operação popular

Os investidores que seguiram o conselho dos primeiros pessimistas sobre o yuan tiveram uma vantagem nas operações que se transformaram nas mais populares do setor de hedge fund. Após a desvalorização de agosto, gestores como David Tepper, da Appaloosa Management, e Kyle Bass, da Hayman Capital Management, tornaram públicas suas visões pessimistas em relação à moeda, enquanto o custo das apostas na queda do yuan no mercado de opções -- refletido nos chamados "risk reversals" -- mais que duplicou.

Walker, cuja posição pessimista para o mercado de ações chinês em 2007 também se mostrou premonitório, diz que as autoridades deveriam permitir uma desvalorização pontual de 10 por cento porque o declínio gradual do yuan nos últimos meses encorajou os investidores da China continental a se anteciparem a uma maior debilidade transferindo o capital para o exterior.

Recessão nos EUA

Quando olha fora da China, Walker diz que uma contração na economia americana levará os yields dos títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos para 0,5 por cento no segundo trimestre de 2017, contra 1,74 por cento na sexta-feira. Ele prevê que o ouro subirá mais de 60 por cento, para US$ 2.000 a onça neste ano, porque os investidores migrarão para ativos seguros.

"A situação não parece boa para os EUA", disse ele, em entrevista, em Hong Kong.

Para Pal, há mais espaço para turbulências no sistema bancário da Europa depois que os lucros decepcionantes do Credit Suisse Group e do Deutsche Bank ajudaram a derrubar as ações do setor financeiro da região neste ano. Ele diz que os preços das ações no setor poderão cair 50 por cento nos próximos 18 meses devido à queda dos ativos dos bancos em derivativos, moedas e energia. Pal também aconselhou seus clientes a comprarem swaps de crédito nos bancos europeus, classificando os calotes ou resgates soberanos como os principais riscos "cisne negro" deste ano.

Mauldin, que reiterou o argumento a favor da desvalorização da moeda da China em um livro lançado em junho de 2015 sobre a economia do país, agora se concentra nas ramificações do colapso do petróleo sobre o Oriente Médio. A queda de 45 por cento do petróleo brent nos últimos 12 meses derrubou os mercados de ações regionais, levou a Arábia Saudita a reduzir os investimentos e gerou apostas de que o país abandonará o câmbio fixo em relação ao dólar americano.