IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Opep admite que precisa aprender a conviver com óleo de xisto

Dan Murtaugh e Javier Blas

23/02/2016 12h03

(Bloomberg) -- A Opep e o xisto dos Estados Unidos podem precisar de terapia de casal.

Após ignorar primeiro, se preocupar a respeito em seguida e, no fim, iniciar uma guerra de preços contra, a Opep agora concluiu que não sabe como coexistir com a indústria de óleo de xisto dos Estados Unidos.

"Em relação ao óleo de xisto dos Estados Unidos, não sei como iremos conviver", disse Abdalla Salem El-Badri, secretário- geral da Opep, a uma sala lotada de executivos do setor do Texas e de Dakota do Norte na conferência anual IHS CERAWeek, em Houston.

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo, que controla cerca de 40 por cento da produção global, nunca precisou lidar com uma fonte de oferta de petróleo capaz de responder tão rapidamente às mudanças de preço quanto o xisto dos EUA, disse El-Badri. Isso prejudica a capacidade do cartel de elevar os preços reduzindo a produção.

"Diante de qualquer aumento no preço, o xisto virá imediatamente e cobrirá qualquer redução", disse ele.

Produção de xisto

Mais cedo, na segunda-feira, a Agência Internacional de Energia deu à Opep motivos para se preocupar com o óleo de xisto, dizendo que a produção total dos EUA, a maior parte proveniente das bacias de xisto, aumentará em 1,3 milhão de barris por dia de 2015 a 2021 apesar dos preços baixos. A projeção é que a produção americana do xisto recuará em 600.000 barris por dia neste ano e mais 200.000 em 2017, mas aumentará novamente de 2018 em diante, disse a AIE.

"Todos os que acham que vimos o último aumento" da produção de óleo de xisto dos EUA "deveriam repensar isso", disse a AIE, em seu relatório de médio prazo.

John Hess, CEO de uma das maiores empresas da região de xisto de Bakken, em Dakota do Norte, disse que o xisto pode não responder tão rapidamente quanto teme a Opep. Há obstáculos logísticos envolvidos com o retorno de sondas e trabalhadores suficientes para recomeçar o aumento de produção, além de obstáculos financeiros.

"Os balanços das produtoras do xisto estão em ruínas", disse Hess. Sua empresa recentemente reportou o primeiro prejuízo anual em 13 anos. "Elas precisam consertar seus balanços antes de começar a investir novamente".

Em novembro de 2014, a Opep iniciou uma guerra de preços contra o xisto dos EUA e outras produções de alto custo, incluindo as areias betuminosas canadenses e os campos de petróleo em águas profundas do Brasil, ao não reduzir a produção apesar do excesso de oferta global. Desde então, os preços do petróleo caíram em mais da metade, atingindo o nível mais baixo em 12 anos, cerca de US$ 26, em 11 de fevereiro.

Em uma rara admissão de que a política não funcionou conforme o planejado, El-Badri disse que a Opep não esperava que os preços do petróleo caíssem tanto quando decidiu continuar bombeando próximo à capacidade máxima.

Mudança de estratégia

A estratégia da Opep começou a mudar na semana passada, quando os ministros do Petróleo da Arábia Saudita e da Rússia concordaram em congelar sua produção no nível de janeiro, desde que outros países ricos em petróleo se somassem a eles. El-Badri disse que a nova política será avaliada em três a quatro meses, antes de decidir tomar outras medidas.

"Este é o primeiro passo para ver o que podemos conseguir", disse ele. "Se der certo, daremos novos passos no futuro". Ele se recusou a explicar que passos a Opep poderia dar.

El-Badri disse que os preços do petróleo causaram cortes de gastos no desenvolvimento de nova produção, o que pode plantar a semente para "um preço bastante alto" no futuro.

"O temor é que sem investimento agora não se tenha oferta no futuro. Simples assim", disse ele. "Se não entrar oferta no mercado, os preços subirão".