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Investimento em emergentes divide otimistas e pessimistas

Ye Xie

26/02/2016 12h51

(Bloomberg) -- O grande debate sobre os mercados emergentes está ganhando corpo.

No lado dos otimistas, gestores de recursos como BlackRock e Franklin Templeton argumentaram nesta semana que as avaliações estão baratas demais nos países em desenvolvimento para não serem aproveitadas.

A Research Affiliates disse que comprar agora poderia ser o "negócio da década" depois que o índice acionário de referência caiu quase 30% nos últimos três anos e os títulos das moedas locais tiveram queda de 26%.

Os pessimistas, por sua vez, temem o crescimento econômico frágil, a dívida corporativa insustentável e as políticas de governo ruins. O Société Générale e o UBS Group alertaram que os ativos dos mercados emergentes poderão cair ainda mais.

A seguir, alguns dos principais pontos de cada lado do debate, a começar pelos otimistas:

Avaliações baratas

As ações dos mercados emergentes estiveram mais baratas que o nível atual em apenas seis ocasiões, segundo os múltiplos ajustados monitorados pela Research Affiliates.

Esse patamar foi seguido de retornos médios de 188% em cinco anos.

O índice de referência de emergentes está sendo negociado com um desconto de 28% em relação à sua contraparte para os países desenvolvidos, segundo indicadores de preço/lucro estimado compilados pela agência de notícias Bloomberg.

No mercado de títulos, as economias emergentes se destacam em um mundo no qual mais de US$ 7 trilhões em dívidas soberanas internacionais garantem retornos negativos quando mantidas até o vencimento.

O rendimento extra dos títulos em dólares de mercados emergentes sobre os títulos do Tesouro dos EUA atingiu o nível mais alto em sete anos neste mês, de 5,07 pontos percentuais.

A dívida denominada em reais do Brasil rende 14,8% em média, dando aos investidores estrangeiros uma proteção considerável contra riscos de calote e depreciação cambial.

Menos ventos contrários

Alguns desafios enfrentados pelas economias em desenvolvimento pararam de piorar.

Os preços do petróleo agora mostram sinais de estabilidade após caírem 67% nos últimos dois anos e a China intensificou os esforços para reforçar o crescimento. As expectativas de novos aumentos nas taxas de juros pelo Federal Reserve diminuíram e a alta do dólar perdeu parte do impulso.

Equívocos sobre mercados

Os investidores se desfizeram indiscriminadamente de ativos de países em desenvolvimento durante a forte queda, segundo Michael Hasenstab, diretor de investimento macro global da Franklin Templeton.

Países como México, Coreia do Sul, Malásia, Indonésia e Filipinas desfrutam de "fundamentos sólidos", mas são tratados como se estivessem em crise, disse Hasenstab, que administra o Templeton Global Bond Fund, de US$ 53 bilhões, em um blog no dia 22 de fevereiro.

Isso cria uma "oportunidade fantástica" para os investidores, disse ele, acrescentando que está evitando títulos da Turquia, Rússia, Venezuela e África do Sul.

Crescimento fraco

Para os pessimistas, as avaliações baratas não são suficientes para impulsionar a recuperação em um momento de piora da perspectiva para o crescimento econômico global.

O índice Economic Surprise do Citigroup mostra que indicadores como emprego e manufatura dos países em desenvolvimento estão abaixo das expectativas dos analistas desde janeiro.

Com o comércio global estagnado, as economias emergentes não conseguem ganhar impulso com as exportações. O

s embarques internacionais da Coreia do Sul caíram 19% em janeiro, enquanto os da China tiveram um declínio de 11%.

Do México à África do Sul, os bancos centrais elevaram os juros para conter a inflação, enquanto as saídas de capital da China impediram as autoridades monetárias de cortarem as taxas de empréstimos de referência para sustentar o crescimento.

Políticas ruins

A falta de progresso na redução do aperto do estado nas economias emergentes continuará pesando sobre os preços dos ativos, segundo John-Paul Smith, um dos poucos estrategistas a antecipar a queda dos mercados emergentes, que começou em 2011.

Um exemplo é a incapacidade do Brasil de deixar para trás o "capitalismo de Estado", que ajudou a afundar a economia em sua pior recessão em um século, disse Smith, fundador da empresa de pesquisa Ecstrat.

Ele também se preocupa com a Rússia, Turquia e Polônia, onde, diz ele, as autoridades de política monetária estão se movendo em uma direção mais "autoritária".