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Maior recuo de preços em um ano leva BCE a cogitar mais estímulo

Alessandro Speciale

29/02/2016 13h19

(Bloomberg) - O panorama de inflação na zona do euro piorou em fevereiro, mais uma má notícia que as autoridades monetárias do Banco Central Europeu terão que digerir apenas uma semana antes da próxima reunião.

Os preços ao consumidor no bloco de dezenove países declinaram de uma leitura positiva de 0,3 por cento em janeiro para -0,2 por cento, segundo dados publicados nesta segunda-feira. O núcleo de inflação, que desconsidera itens voláteis como alimentos e energia, caiu de 1 por cento no mês anterior para 0,7 por cento. São as piores leituras desde fevereiro e abril do ano passado, respectivamente.

O contexto de deterioração da inflação ocorre pouco mais de uma semana antes que as autoridades monetárias do BCE, encabeçadas pelo presidente Mario Draghi, se reúnam em Frankfurt para uma reunião na qual disseram que avaliarão se o estímulo atual é suficiente. O crescimento dos preços ficou abaixo da meta de pouco menos de 2 por cento do banco central durante três anos em meio à queda nos preços do petróleo, o que levou o banco central a reagir tomando medidas cada vez mais audazes.

"Não apenas a inflação geral, mas também o núcleo de inflação está muito abaixo do que o BCE vem projetando - não é só a energia, é um problema mais amplo que reflete efeitos secundários e demanda fraca", disse Nick Kounis, diretor de pesquisa macroeconômica do ABN Amro Bank em Amsterdã. "Isso dará ao BCE um impulso extra para flexibilizar com mais energia que o esperado na reunião de março".

Ambas as medições de inflação foram mais fracas do que os economistas tinham antecipado. Projetava-se que a taxa principal ficaria zerada e que o núcleo recuaria para 0,9 por cento.

Dados decepcionantes

"Se analisarmos a Europa atualmente, o perigo que enfrentamos é sem dúvida a deflação, não a inflação", disse François Villeroy de Galhau, membro do Conselho do BCE, em uma entrevista publicada no domingo. "Se os preços baixos da energia tiverem efeitos sustentáveis no longo prazo, temos que agir. Esse parece ser o caso, mas veremos em março".

O número para a zona do euro chega depois da publicação, na sexta-feira, de dados decepcionantes da Alemanha, da França e da Espanha. Na Alemanha, a taxa de inflação harmonizada com a União Europeia caiu de 0,4 por cento para -0,2 por cento. Na França, a taxa caiu para -0,1 por cento, e os preços na Espanha recuaram 0,9 por cento. Todas as leituras foram piores que as previstas pelos economistas. Dados publicados nesta segunda-feira para a Itália mostraram uma leitura de -0,2 por cento, também abaixo das projeções.

Para impulsionar o revigoramento da inflação, o BCE já reduziu a taxa de depósitos para -0,3 por cento e injeta 60 bilhões de euros (US$ 66 bilhões) por mês na economia através da aquisição de ativos. As autoridades do banco central disseram que estão prontas para expandir o estímulo se for necessário a fim de reagir ao risco de que a inflação baixa se consolide na economia da região.

Isso chama a atenção para as aparições das autoridades monetárias antes que o BCE ingresse no período de silêncio de uma semana antes da reunião do dia 10 de março. Sabine Lautenschläger e Benoit Coeuré, membros da Comissão Executiva, têm discursos agendados para esta semana, assim como Klaas Knot e Villeroy de Galhau, membros do Conselho do BCE.

"Como as expectativas de inflação estão baixas e em queda, a ameaça de um surto de deflação mais persistente ainda é muito real", escreveu Jessica Hinds, economista da Capital Economics em Londres, em uma nota para clientes antes da publicação dos dados. "Por isso, o BCE não pode se dar ao luxo de decepcionar as expectativas de um aumento do estímulo em março".