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Inflação "Supercore" guia BCE com mais quedas do petróleo

Alessandro Speciale e Jeanna Smialek

01/03/2016 14h43

(Bloomberg) - Tapetes, aspiradores de pó e xícaras de café: esses são três dos principais itens de consumo que economistas do Banco Central Europeu estão ponderando para descobrir se a queda do petróleo vai conduzir a zona do euro à deflação.

Com o retorno das expectativas negativas de inflação geral alimentando as perspectivas dos investidores globais por mais estímulo monetário, os responsáveis pela política econômica estão procurando maneiras de diminuir o ruído e determinar se os preços fracos estão se enraizando na economia.

Se uma espiral autossustentada de queda de preços e salários é a situação, o BCE em Frankfurt precisa saber.

Entra a chamada inflação supercore, uma das medidas que os responsáveis usam para tentar avaliar a tendência fundamental.

Enquanto o banco central tem como alvo a inflação geral, com o objetivo de mantê-la em pouco menos de 2%o, e olha vários indicadores que removem itens voláteis, esse método tenta ir mais fundo. Ele controla um subconjunto de preços que se movem em conjunto com as partes mais leves na economia.

"Você não pode definir a política monetária olhando o espelho retrovisor", disse Richard Barwell, economista sênior do BNP Paribas Investment Partners, em Londres. "A inflação subjacente deve mostrar para onde vai a inflação, onde a inflação estaria hoje na ausência destes choques de nível de preço".

A inflação da zona do euro foi de menos 0,2% em fevereiro, a sexta vez em 15 meses que a leitura foi negativa, mostraram os números da União Europeia na segunda-feira.

O núcleo da inflação desacelerou para 0,7%. Isso é uma "medida de exclusão" removendo os elementos mais susceptíveis de oscilação - neste caso alimentos, energia, álcool e tabaco - e é a maneira mais simples de tentar separar os movimentos de preços subjacentes de fatores temporários.

"Supercore" - um termo que o BCE utiliza internamente embora não publicamente - baseia-se em cerca de um terço dos itens da cesta principal da inflação. Aqueles que estão estreitamente correlacionados com o hiato da produção, ou a capacidade ociosa na economia.

Um artigo do BCE no seu boletim de setembro de 2014 listava móveis, tapetes, eletrodomésticos, pacotes de férias e serviços de café entre os componentes monitorados.

A medida foi descrita como "mais suave" do que o núcleo da inflação tradicional, tornando-o "mais fácil de medir os pontos de viragem" no índice de preços ao consumidor. O BCE não publicou uma versão atualizada do indicador desde esse boletim.

"Faz sentido olhar uma série de indicadores a fim de fazer uma análise profunda e arredondada de qual é a tendência subjacente da inflação, e qual será a inflação provável a médio prazo", disse Nick Matthews, co-chefe de pesquisa econômica europeia da Nomura International em Londres.

"É cada vez mais importante, neste momento particular, porque há uma significativa deterioração das expectativas inflacionárias também".

Supercore é apenas uma das maneiras que o BCE tem de medir a inflação subjacente. Outras, como U2core, tentam filtrar estatisticamente o componente persistente de cada preço na cesta inflacionária.

Funcionários vão decidir em 10 de março se a zona do euro precisa de mais estímulo monetário.

Os vários indicadores mostram principalmente a desaceleração da inflação subjacente, reforçando a ideia de que a energia barata está enfraquecendo os preços.

Enquanto isso pode ser positivo para os gastos, como alguns responsáveis da política econômica têm argumentado, também pode frear os aumentos salariais quando esses aumentos estão ligados à inflação corrente ou projetada.

Fábricas na região reduziram os preços no ritmo mais rápido em quase três anos, em fevereiro, de acordo com uma pesquisa publicada na terça-feira pela Markit Economics. Os dados sinalizam que "as pressões deflacionárias se intensificaram", segundo Chris Williamson, economista-chefe da Markit.

"É uma situação muito difícil ver o petróleo em colapso e levando a outro declínio nas previsões de inflação, por razões que não são fundamentais em que o BCE possa ter um efeito", disse Frederik Ducrozet, economista do Banque Pictet Cie em Genebra.

"Em um contexto econômico ligeiramente mais fraco, torna-se um risco maior para o BCE que o núcleo da inflação também seja arrastado para baixo. E é nessa situação difícil que o BCE se encontra".