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A ascensão e a queda do rei do fundo especulativo Willem Kooyker

Javier Blas

02/03/2016 14h12

(Bloomberg) -- A 50 quilômetros a oeste de Wall Street, em um complexo de escritórios anônimo entre colinas e ruas arborizadas, esconde-se um gigante do mundo das commodities.

Detrás dessa fachada sem graça em Berkeley Heights, Nova Jersey, está o quartel-general de Willem Kooyker, um das investidores mais poderosos e enigmáticos do setor.

Por meio século, Kooyker navegou discretamente pelos altos e baixos do petróleo, do cobre, do cacau e de outros produtos, primeiro em sua Holanda natal e depois na Commodities Corp., a lendária empresa de investimento e think-tank que serviu de campo de treinamento para magos do mercado como Paul Tudor Jones, Louis Bacon e Bruce Kovner.

Somente agora, aos 73 anos, Kooyker está tendo dificuldades para conter os danos do colapso das commodities que nem mesmo ele foi capaz de prever.

Antes do pior golpe --o barril de petróleo a US$ 20 deixou de parecer uma hipótese absurda--, a empresa de hedge fund de Kooyker já sofria uma hemorragia bilionária de ativos, segundo pessoas próximas à operação.

Devido à queda dos retornos do principal fundo da Blenheim Capital Management em quatro dos últimos cinco anos, alguns investidores estão se dirigindo para a saída.

Os números contam essa história. Em seu auge, em 2011, a Blenheim era o maior fundo especulativo focado em commodities do mundo, com US$ 9,1 bilhões em ativos, segundo fontes familiarizadas com a empresa. Houve uma queda de quase 85% nos ativos da empresa, que hoje somam US$ 1,5 bilhão.

O que deu errado?

A resposta breve é que Kooyker não pensou que as coisas fossem chegar a esse ponto. Ele e seus colegas subestimaram os problemas econômicos da China e nunca imaginaram que os preços das commodities cairiam tanto, nem tão rapidamente, disseram as fontes, falando sob a condição de anonimato para evitar colocar em perigo suas relações comerciais.

Kooyker e outros representantes da Blenheim não quiseram comentar a respeito do desempenho recente dos ativos sob gestão ou da estratégia de negócios do fundo.

Carreira nos negócios

Kooyker percorreu um longo caminho desde que começou sua carreira nos negócios, em 1964, na Internatio-Muller, em Roterdã. Ele subiu até se tornar chefe da divisão de trading por lá.

Em 1981, passou para a Commodities Corp., em Princeton, Nova Jersey, onde o economista ganhador do prêmio Nobel Paul Samuelson e um pequeno grupo de investidores eruditos estavam peneirando montanhas de dados de todas as commodities, do alumínio ao zinco --e ganhando uma fortuna nos mercados.

Segundo os detalhes biográficos informados à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC, na sigla em inglês), Kooyker chegou à presidência, mas deixou a empresa para formar uma joint venture da Commodities Corp. com um grupo de investidores do Oriente Médio -- uma conexão potencialmente valiosa para qualquer trader.

Em 1989, Kooyker começou formalmente a caminhar com as próprias pernas, segundo cartas enviadas pela Blenheim a investidores. Mas o histórico da Blenheim vem de antes de 1989, englobando o período da joint venture da Commodities Corp. com a Tricon Holdings Co.

E que retornos: 54,7% em 1987; 19,6% em 1988; 108,5% em 1989; e 12,6% em 1990, segundo documentos da Blenheim analisados pela Bloomberg.

Em 1997, quando a Commodities Corp. foi adquirida pelo Goldman Sachs, Kooyker havia eclipsado e muito seus velhos colegas de Princeton. Nos círculos das commodities, ele se transformara em estrela.

Retornos altos

É fácil ver o porquê. Antes de sua fase difícil recente, a Blenheim havia registrado prejuízo anual em apenas cinco oportunidades em 30 anos.

Duas vezes deu retorno de mais de 100% e em 12 oportunidades, de pelo menos 20%, segundo apresentações da Blenheim a investidores, cartas a clientes e entrevistas com pessoas familiarizadas com o fundo.

E então veio a crise financeira e uma parte da antiga magia começou a perder força.

A Blenheim perdeu dinheiro em 2008, se recuperou em 2009 e 2010 -- e depois afundou 23,5% em 2011, um de seus piores anos na história. Mais saldos negativos vieram em 2012 e 2013. Após uma ligeira recuperação em 2014, o fundo perdeu quase 10% no ano passado.

Fontes familiarizadas com a Blenheim dizem que, no retrospecto, os ativos da empresa cresceram tão rapidamente durante o começo dos anos 2000 que Kooyker tinha problemas para identificar oportunidades lucrativas.

NEPC LLC, que assessora fundos de pensão sobre onde investir, também apontou alguns problemas.

A Blenheim, "em alguns casos, foi prematura na execução de estratégias que posteriormente acabaram se mostrando corretas", disse a NEPC, em apresentação a fundos de doações de propriedade da Universidade de Maine, em março de 2014.

"A Blenheim perdeu dinheiro quando o mercado esteve em baixa e também reduziu o risco significativamente, o que fez com que, em períodos de risco baixo, a empresa não participasse suficientemente do potencial de aumento".