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Sauditas enfrentarão novo titã do petróleo se vencerem o xisto

Grant Smith

02/03/2016 08h54

(Bloomberg) -- Mesmo se vencer sua batalha por participação de mercado com as produtoras de xisto dos EUA, a Arábia Saudita enfrentará um novo adversário com 1 bilhão de barris.

Não será o inimigo regional Irã, o ressurgente Iraque ou a histórica concorrente Rússia.

A resposta será mais prosaica: mesmo quando a superprodução terminar, ficará um estoque excedente de mais de 1 bilhão de barris construído desde 2014 que pressionará os preços. Os estoques continuarão aumentando até o fim de 2017, projeta a Agência Internacional de Energia, e a eliminação do excesso poderia levar anos.

"É possível que cheguemos ao fim do ano e, mesmo com a oferta e a demanda equilibradas, o mercado dê de ombros e diga 'e daí?', porque estará esperando uma prova da redução do estoque", disse Mike Wittner, chefe de mercados de petróleo do Société Générale em Nova York. "Mudar do acúmulo de estoque ao equilíbrio poderia não ser suficiente".

Desde que foi revelada no fim de 2014, a estratégia da Arábia Saudita para levar os mercados mundiais de petróleo com excesso de oferta de volta ao equilíbrio espremendo os concorrentes com preços mais baixos se mostrou extenuante, derrubando o barril de petróleo para menos de US$ 30 no mês passado.

Embora o declínio gradual da produção dos EUA sinalize que a oferta deixará de crescer, o segundo ato do processo poderá ser o mais longo porque os estoques diminuem lentamente.

Como precedente histórico, o Goldman Sachs aponta para a abundância de petróleo que se desenvolveu de 1998 a 1999, quando a demanda despencou após a crise financeira asiática.

Os preços do petróleo continuaram caindo, mesmo após a Organização dos Países Exportadores de Petróleo realizar cortes de produção em março e em junho de 1998, e em dezembro daquele ano o barril ficou abaixo de US$ 10 em Londres. A recuperação só ganhou forma quando os estoques das economias desenvolvidas começaram a cair, no início de 1999.

Entre o fim de 2014, quando os estoques do mundo desenvolvido estavam aproximadamente nos níveis médios, e o fim deste ano os estoques globais terão aumentado cerca de 1,1 bilhão de barris, mostram dados da AIE.

Outros 37 milhões serão adicionados em 2017. Considerando as projeções da agência para a velocidade com que os estoques cairão e as estimativas da Energy Aspects de que 290 milhões de barris fluirão para as reservas estratégicas da China, o total acumulado será eliminado apenas em 2021.

Os dados mais recentes do Instituto Americano do Petróleo mostram que o acúmulo nos EUA continua crescendo: os estoques de petróleo do país subiram 9,9 milhões de barris na semana passada.

Barris faltantes

Os estoques poderiam diminuir já neste verão no Hemisfério Norte porque o declínio da produção do xisto dos EUA provavelmente será mais agudo do que o previsto pela maioria, segundo a consultoria JBC Energy, com sede em Viena, que prevê que os preços do barril poderiam subir para US$ 50 em junho.

Boa parte do superávit que a AIE estima ter se acumulado no quarto trimestre de 2015 não apareceu de fato no estoque, o que sugere que o excesso é menor do que se pensava, diz o Standard Chartered.

"A explicação mais provável para a maioria dos barris faltantes é que eles simplesmente não existem" e são o "resultado da subestimação da demanda e da superestimação da oferta", disse Paul Horsnell, chefe de pesquisa de commodities do Standard Chartered. "Eles deixam implícito que o mercado global oscilará de volta para o déficit bem antes do consenso".