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Alta da Gol com especulação pode ter aterrissagem dura

Fabiola Moura e Denyse Godoy

03/03/2016 10h09

(Bloomberg) -- Os investidores se lançaram vorazmente às ações da Gol Linhas Aéreas Inteligentes depois que o Brasil permitiu o aumento da participação de companhias estrangeiras nas empresas aéreas locais, mas a euforia pode durar pouco.

A Gol, maior empresa aérea do Brasil em participação de mercado, subiu com a especulação de que a Delta Air Lines, que tem sede em Atlanta, EUA, e já possui 9,5% da companhia, poderia ampliar sua participação para até 49%.

A pesada dívida da Gol e a perspectiva da pior recessão brasileira em mais de um século limitam o entusiasmo.

Em setembro, a Delta atuou como fiadora da Gol em um empréstimo a prazo de US$ 300 milhões.

Com um aumento de participação para um nível mais próximo da tomada de controle, a empresa aérea dos EUA teria que assumir mais US$ 4,5 bilhões em compromissos -- cerca de US$ 2,5 bilhões em dívidas, mais US$ 2 bilhões em leasings (aluguel) de aviões, segundo Savanthi Syth, analista da Raymond James Financial.

"A parceria com a Gol é importante para a Delta e eu acredito que a Delta queira ver a Gol sem problemas de liquidez", disse Syth. "Eles vêm encontrando maneiras de ajudar a Gol, mas claramente no curto prazo eles não parecem ter interesse em aumentar o nível de participação para o máximo possível".

A Delta disse por email que "respeita as iniciativas estudadas pelo governo brasileiro" e que preferia não fazer comentário adicionais. A Gol disse que recebeu a notícias sobre a mudança "positivamente".

Aumento recorde

A Gol subiu mais de 50% em 1º de fevereiro, maior alta da história, quando surgiu a notícia de que o governo estava planejando ampliar o limite.

Na quarta-feira (2), a presidente Dilma Rousseff sancionou uma medida provisória permitindo que empresas estrangeiras sejam donas de até 49% de uma empresa aérea brasileira, contra 20% atualmente.

As ações subiram 21%, para R$ 2,73, em São Paulo, nível mais alto desde 21 de dezembro.

O Brasil está procurando atrair investimentos para as empresas aéreas domésticas, que passam por dificuldades em um momento em que a pior contração desde pelo menos 1901 reduz a demanda por viagens aéreas, especialmente entre viajantes executivos bem remunerados.

As empresas aéreas, cujos custos com combustível e leasing de aeronaves normalmente são fixados em dólares, também sofreram o impacto da desvalorização de 33% do real no ano passado.

"O cenário sombrio para as empresas aéreas no Brasil não mudou", disse Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da corretora Nova Futura. "No longo prazo, a medida poderia ajudar o setor no país, mas por enquanto é melhor manter a cautela".

Audiência pública

O aumento do investimento estrangeiro permitido, que entrou em vigor na quarta-feira, é válido por 120 dias. Durante esse período, a Câmara dos Deputados e o Senado precisariam aprová-lo para transformá-lo em lei.

O Ministério da Aviação Civil e a agência reguladora Anac criaram uma força-tarefa para propor outras mudanças regulatórias para ajudar a reduzir as despesas das empresas aéreas e a atrair outras operadoras de baixo custo.

As medidas, que a força-tarefa irá propor em duas semanas, serão posteriormente submetidas à aprovação pública.

Entre as mudanças estudadas estão a eliminação da exigência de as empresas aéreas acomodarem passageiros e pagarem suas despesas quando os voos são cancelados devido a problemas climáticos ou a outros fatores não diretamente controlados pelas operadoras.