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BCE procura alternativas de estímulo que não afetem os bancos

Jeff Black e Alessandro Speciale

03/03/2016 14h17

(Bloomberg) - Uma semana antes de uma decisão longamente esperada sobre o estímulo, as autoridades do Banco Central Europeu estão deliberando privativamente como melhorar a postura em matéria de política monetária sem mutilar sua transmissão.

Os comitês que estudam como mitigar o impacto sobre os bancos prepararam possíveis medidas que vão desde variações sobre uma taxa de depósitos escalonada até técnicas para deter o impacto do estímulo sobre o excesso de liquidez, segundo fontes do setor.

De qualquer modo, as sugestões poderiam ser rejeitadas pela Comissão Executiva ou na reunião do Conselho do BCE no dia 10 de março. Um porta-voz do BCE não quis comentar.

Como mais uma vez a inflação na zona do euro está abaixo de zero e as preocupações com o estado da economia global estão aumentando, o presidente do BCE, Mario Draghi, e seus colegas estão analisando se a política monetária deve dar mais ímpeto à recuperação do bloco monetário.

A preocupação principal é que as taxas de juros negativas, especialmente se forem rebaixadas ainda mais, possam espremer a rentabilidade dos bancos a ponto de fazê-los diminuir o crédito para empresas e famílias.

Draghi "deveria se preocupar com as implicações para o sistema bancário", disse Mark Burgess, diretor de investimentos da Columbia Threadneedle Investments para a Europa, o Médio Oriente e a África, em entrevista de Frankfurt na quarta-feira. "Ele precisa de um setor bancário saudável".

Opções

Uma das medidas mais simples seria reduzir a taxa de depósitos do nível atual de -0,3% e implementar um sistema de duas camadas. Os bancos pagariam a taxa negativa só pela porção de seus fundos colocados no BCE que superasse certo limiar.

O problema para as instituições financeiras é que elas não podem repassar facilmente o custo da retenção de dinheiro overnight no banco central para os clientes por causa do medo de que eles saquem suas economias.

As ações de bancos sofreram uma forte queda neste ano, em parte pelo temor de que mais taxas negativas estejam a caminho.

"Estamos muito cientes desse problema", disse na quarta-feira Benoit Coeuré, membro da Comissão Executiva.

"Estamos monitorando-o regularmente e estudando com cuidado os esquemas utilizados em outras jurisdições para mitigar as possíveis consequências adversas para o canal de créditos bancários".

Outra opção tecnicamente simples para o BCE seria aumentar as aquisições mensais de bonds sob o programa de flexibilização quantitativa (QE, na sigla em inglês).

Hoje, o banco central se compromete a gastar 60 bilhões de euros (US$ 65 bilhões) por mês em dívida pública e privada pelo menos até março de 2017, um total de pelo menos 1,5 trilhão de euros.

Contudo, esse programa e os empréstimos de longo prazo específicos para bancos, conhecidos como ORPA direcionadas, estão gerando grandes quantidades de dinheiro que devem ser colocadas em algum lugar.

O excesso de liquidez na zona do euro cresceu de menos de 150 bilhões de euros há um ano, quando a QE começou, para mais de 700 bilhões de euros. Com a taxa de depósitos negativa, esse excesso de fundos se torna um custo para os bancos.

'Soma zero'

As políticas com taxas de negativas vêm atraindo cada vez mais críticas do mercado nas últimas semanas e foram destacadas pelo presidente do Banco da Inglaterra, Mark Carney, em um discurso pronunciado na semana passada em Xangai.

Ele disse que ajudam a estimular o "jogo de soma zero" das guerras cambiais.

Elas também representam um risco particular para os bancos nas economias mais fracas da zona do euro, de acordo com Richard Barwell, economista sênior da BNP Paribas Investment Partners em Londres.

"A zona do euro ainda está se recuperando de uma crise econômica e financeira única em uma geração que deixou cicatrizes profundas", disse Coeuré.

"Tanto as autoridades monetárias quanto as instituições financeiras precisam fazer sua parte. Elas devem garantir que o sistema financeiro sirva seu propósito e consiga financiar a recuperação - e elas precisam fazer isso hoje, não amanhã".