Sucesso do acordo para congelar o petróleo se mede com binóculos
(Bloomberg) - Para estimar a oferta da commodity mais importante do mundo, muitas vezes basta com um bom par de binóculos.
Em um mundo com Twitter, iPhone e informações instantâneas, determinar quanto petróleo está sendo extraído pelos produtores globais é um alvo móvel. Depende de um sistema de monitoramento de navios-tanque de cinquenta anos para ajudar a compensar interesses nacionais que podem encobrir os dados em sigilo e má-fé. O problema: outras análises desses dados costumam produzir resultados diferentes.
A Agência Internacional da Energia dirá que a Opep extraiu 32,6 milhões de barris por dia em janeiro. Se você perguntar ao Departamento de Energia dos EUA, a resposta será um milhão de barris por dia a menos. Embora medir a produção sempre seja importante, é provável que se torne ainda mais relevante depois que um pacto provisório foi anunciado no mês passado pela Arábia Saudita, pela Rússia e por outros países para congelar a produção nos níveis de janeiro. Em jogo há uma queda tenaz dos preços, que bombardeou economias, mercados e empresas.
"Nos próximos dois meses, a Arábia Saudita e a Rússia vão querer ver que o congelamento está dando certo; que os dados de monitoramento de navios-tanque não mostram um aumento da produção", disse Yasser Elguindi, analista de petróleo da consultoria Medley Global Advisors, com sede em Nova York.
Medida da profundidade
Para fazer isto, o setor conta com um grupo pequeno de empresas pouco conhecidas cuja principal tarefa é contar o número de navios-tanque que saem dos portos. No melhor dos casos, elas usam dados compilados por satélites, e no pior, simples binóculos. Depois, adivinham quanto petróleo bruto está sendo transportando medindo a profundidade dos navios na água.
A Petro-Logistics, com sede na Suíça, é uma dessas empresas e descreve seu trabalho como "a arte e a ciência do monitoramento de navios-tanque" visando a descobrir o que os produtores de petróleo "estão realmente fazendo, em vez do que eles dizem que estão fazendo", segundo uma publicação em seu site.
Embora a informação produzida por empresas como a Petro-Logistics e a Oil Movements, com sede no Reino Unido, seja a principal fonte para as estimativas feitas por consultorias, traders e órgãos oficiais, ela não é o único instrumento de medição em uso.
Tradicionalmente, a Organização de Países Exportadores de Petróleo publica uma medição da produção com base no que o grupo chama de "fontes secundárias", consultores que calculam os fluxos a partir de várias fontes, entre elas os dados do monitoramento de navios-tanque. O cartel também publica números de produção com base no divulgado pelos países-membros da Opep.
Diferenças
Às vezes, as cifras podem ser muito diferentes. Por exemplo, os Emirados Árabes Unidos já publicaram dados que mostravam uma produção até 10 por cento maior que os números produzidos pela Opep.
A AIE e o governo dos EUA também publicam estimativas, assim como muitas agências de notícias, entre elas a Bloomberg. A mais nova adição a esta avalanche de informação é a Joint Organisations Data Iniciative (JODI, na sigla em inglês), projeto iniciado em 2002 com o apoio de alguns dos países mais ricos do mundo.
Nos próximos meses, esses métodos vão determinar a proporção do sucesso obtido pelo acordo de congelamento anunciado pelos dois maiores produtores do mundo. O acordo, que inclui o Catar e a Venezuela, foi descrito como o "começo de um processo" que poderia exigir "outras medidas para estabilizar e melhorar o mercado" pelo ministro do Petróleo da Arábia Saudita, Ali Al-Naimi, depois da reunião entre representantes dos dois países em Doha, Catar.
Concordar com um número de referência para a produção já resultou ser mais difícil para a Opep do que decidir o tamanho de uma possível redução e, tradicionalmente, exigiu algumas manobras políticas. Em 1999, por exemplo, o Irã só concordou em aceitar os ajustes da Opep depois que a Arábia Saudita aceitou uma base para Teerã de 3,6 milhões de barris diários, em vez de 3,3 milhões.
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