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Fortescue faz acordo com Vale e mira mercados além da China

David Stringer, Rebecca Keenan e Jasmine Ng

22/03/2016 10h48

(Bloomberg) -- Após assinar um acordo surpresa para formar uma joint venture com a maior produtora de minério de ferro do mundo, a Fortescue está concentrando seu foco de longo prazo além da China, sua maior cliente e principal cliente também do mundo.

A conexão da empresa do bilionário australiano Andrew Forrest com a Vale equivale ao surgimento de um novo bloco de poder no setor de minério de ferro, segundo o Macquarie Group. O acordo, que permite que a empresa brasileira compre uma participação minoritária na Fortescue e invista em minas existentes ou futuras, poderá ajudar a quarta maior produtora do mundo a entrar finalmente em novos mercados a oeste da China, segundo o CEO Nev Power.

O acordo mais recente da Fortescue é mais um giro inesperado na montanha-russa da história da empresa desde 2003, que tem sido marcada por disputas com órgãos reguladores, governos e rivais, múltiplas dívidas, dramas de investidores e oscilações dos preços das ações. O acordo com a Vale foi fechado neste mês após cerca de um ano de negociações iniciadas por Forrest diante de um cenário de desaceleração da demanda na China, a maior compradora de minério de ferro.

Outro coelho

“Nas circunstâncias mais difíceis, ele sempre está pronto para tirar outro coelho da cartola”, disse Philip Kirchlechner, que foi diretor de marketing da Fortescue de junho de 2003 a maio de 2006. O acordo é “uma ideia bastante sofisticada porque a empresa está fazendo algo mais estratégico e visionário”, disse Kirchlechner, atualmente diretor da Iron Ore Research Pty em Perth, na Austrália.

Os sócios do acordo, cuja primeira prioridade é uma joint venture para a mistura de minério na China, também estão de olho no desenvolvimento de uma série de projetos que poderiam finalmente alimentar a demanda por aço impulsionada pela mudança demográfica que provavelmente varrerá a região que vai da Ásia Central ao Oriente Médio, disse Power, da Fortescue, no dia 15 de março em entrevista.

“Estaremos monitorando o mercado para ver como será a curva da demanda”, disse Power. “Embora estejamos muito focados na China e nas regiões desenvolvidas da Ásia no momento, a oeste da China temos toda a Ásia Central, a Índia e os países ’istão’, o Oriente Médio e até mesmo o Norte da África, que estão dentro de uma distância muito eficiente e competitiva da Austrália Ocidental”.

As ações da Fortescue subiram 0,4 por cento, para 2,75 dólares australianos, no encerramento em Sidney na terça-feira. Elas já subiram 47 por cento até agora neste ano.

Forrest fundou a Fortescue para atender a rápida industrialização da China em um momento em que as rivais de maior porte ignoraram os primeiros indicadores de uma expansão que fez a produção de aço bruto se multiplicar por 12 entre 1990 e 2014, quando milhões de pessoas se mudaram para as cidades e impulsionaram a demanda por residências, estradas, carros e eletrodomésticos.

40.000%

De 2009 a 2015, a Fortescue multiplicou por seis os embarques anuais, taxa mais rápida que a de qualquer outro grande fornecedor em uma corrida frenética para saciar a fome da China por importações. As ações da produtora subiram mais de 40.000 por cento entre a renomeação de uma empresa anterior, em 2003, e um pico atingido em meados de 2008, período em que enviou um carregamento inaugural de 180.000 toneladas a bordo do navio Heng Shan para a chinesa Baosteel Group.

“A autoconfiança deles é muito forte e eles têm uma equipe operacional realmente boa”, disse Morgan Ball, diretor-gerente da produtora de minério de ferro BC Iron. Em dezembro, a Fortescue e a BC Iron suspenderam uma joint venture com capacidade de seis milhões de toneladas ao ano devido aos preços mais baixos. “Eles são bastante inovadores, eles pensam as coisas de forma diferente”, disse Ball em entrevista em Perth.

A Rio Tinto e a BHP Billiton, a segunda e a terceira maiores exportadoras de minério de ferro, continuam ampliando os volumes em meio ao excesso de oferta -- uma estratégia criticada por Forrest. O acordo com a Vale se concentrará em aumentar os preços realizados unindo os minérios brasileiro e australiano e conquistando participação de mercado com as maiores siderúrgicas chinesas.

Título em inglês: Iron Ore Billionaire’s Comeback King Looks Past China With Pact

Para entrar em contato com os repórteres: David Stringer em Melbourne, dstringer3@bloomberg.net, Rebecca Keenan em Perth, rkeenan5@bloomberg.net, Jasmine Ng em Cingapura, jng299@bloomberg.net, Para entrar em contato com os editores responsáveis: Telma Marotto tmarotto1@bloomberg.net, Patricia Xavier

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