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Análise: Otimismo com Temer se justifica?

Josué Leonel

14/04/2016 13h43

(Bloomberg) -- Com mais partidos abandonando o barco do governo e embalando as apostas no impeachment da presidente Dilma Rousseff, cresce a expectativa sobre a formação de um eventual governo de Michel Temer. É praticamente consenso que o novo presidente terá uma equipe econômica pró-mercado para dar um "choque" nas expectativas, o que endossa a atual onda otimista. Outro consenso, que vai na contramão da onda positiva, é o de que aprovar as reformas no Congresso não será fácil.

"Não há nenhuma dúvida de que o mercado vai adorar a equipe e as propostas de Temer", diz Christopher Garman, cientista político da Eurasia Group em Nova York."A estratégia de Temer é se colocar como alternativa à atual crise econômica". Para Garman, o vice já demonstrou esta linha favorável ao ajuste fiscal no programa "Uma Ponte Para o Futuro", publicado no website do PMDB. "Ele sabe que tem de dar um choque de confiança no setor privado".

Entre os nomes que têm sido citados na mídia recentemente para a equipe econômica de Temer, o consultor da Eurasia vê maiores chances para Henrique Meirelles, que comandou o BC no governo Lula. Além do preparo técnico, Meirelles tem "traquejo político", diz Garman. Outros nomes citados na imprensa como Armínio Fraga, Murilo Portugal e Marcos Lisboa também poderiam ser bem recebidos pelo mercado, diz o consultor.

"É inegável que o mercado está extremamente otimista com uma mudança de governo que pode melhorar as perspectivas para a política fiscal e o crescimento", diz Gustavo Rangel, economista-chefe para América Latina do banco ING em Nova York. Se Temer anunciar uma equipe com credibilidade, o otimismo do mercado vai aumentar, afirma o economista. "Nós poderemos ter mais notícias positivas".

Em um segundo momento, contudo, o entusiasmo do mercado tende a esfriar na medida em que forem ficando claras as dificuldades de Temer em aprovar as reformas fiscais, entre as quais a da Previdência, no Congresso, diz Rangel. "Aprovar reformas no Congresso no Brasil nunca foi fácil".

Incerteza 

Jayro Rezende, chefe de tesouraria do Banco da China, concorda que a tendência da equipe de Temer é de ser pró-mercado, mas adverte que ainda existe incerteza com o Congresso, mesmo considerando o impeachment. Após o pedido passar na Câmara, lembra Rezende, ainda restará o Senado, sem contar que há o risco de o governo recorrer.

Para Garman, da Eurasia, aumentaram não apenas as chances de o impeachment ocorrer quanto o de ser aprovado por margem ampla. "A votação no domingo deve ser acachapante". Garman prevê de 30 a 40 votos de vantagem. O Senado também tende a aprovar o afastamento de Dilma, embora haja dúvidas sobre o prazo para o fim do processo, diz o consultor.

Analistas ainda têm dúvidas sobre como o mercado vai continuar reagindo ao impeachment. Para alguns, os ativos brasileiros já foram longe demais. Para outros, ainda há muito o que andar.

O dólar, que tem sido sustentado pelos leilões do Banco Central, poderia ir a R$ 3 ou menos, enquanto o Ibovespa superaria os 60.000 pontos. Entre cautelosos e otimistas, a dúvida deve ser tirada pela capacidade, ou não, do novo presidente de entregar as mudanças prometidas.

Temer terá de aproveitar uma eventual "janela" de tranquilidade do início de seu governo para encaminhar as mudanças econômicas antes que se avolumem as pressões do PT e movimentos sociais que passarão à oposição, diz Rangel, do ING. Para ele, o novo presidente terá de agir rápido para conter a trajetória "explosiva" da dívida. "O mercado está muito otimista. Mas o histórico no Brasil é de que as mudanças não são fáceis", diz.