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Recuperação frágil em Hong Kong não convence investidores

Justina Lee

03/05/2016 14h33

(Bloomberg) -- A recuperação de 15% do mercado de ações de Hong Kong não está entusiasmando os investidores.

Embora o índice Hang Seng tenha atingido a pontuação máxima de 2016 no mês passado, o valor médio das ações negociadas na cidade despencou para o patamar mais baixo em um ano e meio. Para Daniel So, estrategista da CMB International Securities em Hong Kong, a rotatividade em queda mostra que os gestores de ativos não estão convencidos de que a melhora dos números econômicos da China em março seja sustentável.

"Os volumes não aumentaram apesar das ações terem continuado em alta, o que mostra que não há muito impulso para subirem mais", disse So. "Os dados da China relativos a março foram bons, mas será que continuarão assim? Os investidores internacionais estão especialmente descrentes".

O estrategista foi um dos poucos a alertar no ano passado que os circuit breakers planejados pela China provocariam instabilidade maior. As autoridades reguladoras abandonaram esse mecanismo poucos dias depois que sua introdução, em janeiro, foi responsabilizada por aumentar as vendas de ações motivadas por pânico.

Diversos indicadores, como produção industrial e novas concessões de empréstimos, superaram as estimativas em março, aplacando os temores de que a economia da China caminha para um pouso forçado. Porém, os dados também intensificaram a preocupação com os riscos do crédito. Divulgado no fim de semana, o índice oficial que acompanha as compras de suprimentos (ISM), uma das primeiras leituras do crescimento em abril, ficou abaixo das previsões. Hong Kong também tem exposição a riscos internacionais, como um possível aumento dos juros nos EUA em junho e o referendo no Reino Unido no mesmo mês sobre a saída da União Europeia.

Avanço em abril

O Hang Seng avançou 1,4% em abril, ampliando para 15% a recuperação desde o piso registrado no dia 12 de fevereiro, embora as ações e os títulos da China Continental tenham registrado perdas. Os dados econômicos da China melhoraram em março porque novos créditos, no valor sem precedentes de 6,6 trilhões de yuans (US$ 1,02 trilhão), foram criados no primeiro trimestre, estimulados em parte por um ciclo de flexibilização monetária que começou no fim de 2014.

O índice da bolsa de Hong Kong recuou 1,85% no fechamento desta terça-feira, quando o mercado reabriu depois do feriado na segunda-feira. Foi a maior perda do indicador desde 11 de fevereiro.

Para uma recuperação mais longa das ações, "é realmente necessário que o governo permita que a economia se desacelere para uma taxa de crescimento mais sustentável", disse Francis Cheung, estrategista-chefe para China e Hong Kong da CLSA em Hong Kong.

Depois de dois anos em alta, o mercado de títulos onshore da China está começando a vacilar. As dívidas de grau especulativo registraram a maior queda mensal desde 2014, à medida que os calotes e os custos de captação aumentam. O UBS Group advertiu que o aumento da inadimplência por empresas estatais vai atrapalhar o movimento de ganhos das ações de companhias da China Continental negociadas em Hong Kong.

Imóveis e energia

A recuperação das ações da cidade foi encabeçada por setores que atravessam dificuldades próprias. O avanço do índice Hang Seng para o setor imobiliário superou o índice de referência por 8 pontos percentuais nos últimos três meses, embora a desaceleração do turismo tenha restringido os aluguéis de pontos comerciais e os preços dos imóveis residenciais tenham caído após atingirem recordes.

Três das 10 componentes com o melhor desempenho no Hang Seng durante o período foram petrolíferas chinesas, que, por produzirem em excesso, ajudaram a derrubar a cotação do barril para o menor patamar em 12 anos. As ações de cassinos em Macau, que tiveram desempenho melhor que o do mercado geral em março, estão começando a oscilar porque as receitas com apostas estão caindo.

"As pessoas agora querem sentar e esperar para entender em que direção o mercado vai", disse Cheung, da CLSA. "As pessoas sabem que os estímulos da China vão desaparecer e que a economia vai continuar desacelerando".