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Fragmentação do mercado de títulos eleva queixas ao Tesouro dos EUA

Alexandra Scaggs e Liz Capo McCormick

09/05/2016 11h39

(Bloomberg) -- Para quem negocia títulos do Tesouro americano, a parte fácil foi concordar que setores do mercado precisam ser mais centralizados. Agora vem a parte difícil: descobrir como fazer isso.

A estrutura básica desse mercado de US$ 13,4 trilhões - a forma como os negociadores, ou dealers, interagem entre si e com clientes - está se fragmentando. A maioria dos negócios nas plataformas dos dealers é realizada por instituições automatizadas, que não são obrigadas a compensar suas operações de forma centralizada. E pelo menos sete novas plataformas de negociação estão sendo desenvolvidas -- cada uma com método diferente para conectar compradores e vendedores de bônus. Além disso, os maiores dealers de Wall Street têm sistemas próprios.

Essa fragmentação cria um senso de desordem no maior e mais seguro mercado de títulos do mundo, que serve como referência para a maioria dos ativos financeiros globais e como refúgio em temos de turbulência. A preocupação foi revelada em respostas a uma pesquisa recente do Departamento do Tesouro sobre a estrutura do mercado. Avanços tecnológicos e pressões de balanço patrimonial estão transformando o funcionamento desse mercado que movimenta US$ 500 bilhões por dia e por décadas resistiu às mudanças que varreram outras classes de ativos.

"O mercado mudou - a tecnologia fez a mudança, as regulamentações fizeram a mudança", afirmou Craig Pirrong, professor de Finanças da Universidade de Houston que estuda mercados de derivativos e gestão de risco. "A primazia dos dealers foi corroída."

Mercado se divide

Essa evolução é uma questão crítica porque a regulamentação das Treasuries é como uma colcha de retalhos, que não acompanha os participantes do mercado. De fato, a falta de visibilidade do mercado torna difícil avaliar como o panorama está mudando. Demorou meses para as autoridades americanas coordenarem e coletarem dados após uma disparada súbita nos títulos do Tesouro em 15 de outubro de 2014 que não teve motivo aparente. Em um período de 12 minutos, o rendimento dos papéis com prazo de 10 anos caiu 16 pontos-base e então se recuperou, desencadeando a primeira revisão desse mercado pelo governo desde 1998.

Treasuries com prazo de 10 anos rendiam 1,79 por cento às 10:51 em Londres, de acordo com dados do Bloomberg Bond Trader.

Boa parte do debate contido nas 51 cartas recebidas pelo Departamento do Tesouro nos últimos meses de dealers, investidores, bancos centrais e acadêmicos envolve as atividades que deveriam ser mais regulamentadas à medida que o mercado muda. No ano passado, firmas de negociação em alta velocidade representavam mais da metade das plataformas restritas a dealers, comparado a 20 por cento há uma década, de acordo com um relatório de 2015 da empresa de pesquisas Tabb Group LLC. No ano passado, 16 por cento dos investidores institucionais realizaram todas as suas negociações por telefone, comparado a 39 por cento em 2005, de acordo com a Greenwich Associates.

Representantes do Tesouro escreveram em um blog na semana passada que a negociação de dívida americana não parece ter sofrido com as mudanças.

"Encontramos poucas evidências convincentes de deterioração ampla da liquidez do mercado de Treasuries usando métricas tradicionais", escreveram James Clark, subsecretário-assistente para finanças federais, e Gabriel Mann, assessor de políticas do Escritório de Gestão de Dívida.

Ainda assim, segmentos do mercado cresceram fora do alcance das autoridades americanas, como a compensação de negócios realizados por firmas automatizadas de alta velocidade. Embora dealers de Wall Street compensem transações por meio de uma plataforma central comandada pela Depository Trust & Clearing Corp., não existe essa exigência regulatória, segundo as cartas. Plataformas de compensação são intermediárias entre compradores e vendedores que assumem responsabilidade de concluir as transações.

Entidades automatizadas de negociação geralmente não fazem compensação central, o que impõe riscos a outros participantes do mercado, de acordo com uma carta assinada conjuntamente pela Associação da Indústria de Valores Mobiliários e Mercados Financeiros e pela Associação de Bancos Americanos, ambas representantes de dealers. A maior preocupação citada em algumas cartas foi que, se uma oscilação brusca do mercado ou falha tecnológica deixar uma dessas firmas de alta velocidade com exposição demais às Treasuries, as perdas podem ser absorvidas por integrantes da plataforma central de compensação.