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Pacientes crônicos impulsionam fornecedoras de gás industrial

Tara Patel e Carolynn Look

09/05/2016 12h09

(Bloomberg) -- Em um bagunçado apartamento na parte leste da Grande Paris, o técnico de saúde Vincent Mallet ajusta um tubo de plástico que entrega oxigênio aos pulmões doentes de um homem idoso. Sentado à mesa da sala de jantar, Mallet testa o equipamento enquanto o paciente e sua esposa contam as dificuldades diárias de viver com uma doença crônica.

No passado, o casal teria feito visitas frequentes a um hospital próximo. Mallet atualmente demora cerca de uma hora por semana para calibrar uma máquina posicionada ao lado da cama e escrever um relatório para o médico do paciente como parte de suas rondas na cidade de Fontenay-sous-Bois. Com isso, as idas ao hospital viraram raridade.

Mallet não é enfermeiro, nem médico. Ele é funcionário da Air Liquide, empresa francesa mais conhecida pelo fornecimento de gases em cilindros pesados e dutos para plantas industriais, como refinarias e siderúrgicas. A visita ao paciente, paga pelo sistema médico financiado pelo governo da França, faz parte da expansão das operações da Air Liquide no setor de saúde.

Com a redução da demanda das fábricas e os prejuízos da queda do petróleo aos novos projetos industriais, grandes fornecedoras de gás como a Air Liquide, a Linde e a Praxair descobriram que podem lucrar com a população idosa e com o aumento das doenças crônicas, como asma e diabetes. A Linde atende 1,7 milhão de pacientes em suas casas e diz que o mercado global para o tipo de serviço de saúde que a empresa oferece deverá duplicar no período de 10 anos até 2020, para 17 bilhões de euros (US$ 20 bilhões).

"O potencial da saúde é enorme, tanto na Europa quanto nos mercados emergentes", disse Benoît Potier, CEO da Air Liquide, que atende 1,3 milhão de pacientes. "Governos de todo o mundo estão descobrindo que o serviço de saúde em casa pode ser mais barato e efetivo do que a permanência nos hospitais".

As empresas de gás foram criadas há mais de um século por cientistas que descobriram como liquefazer e separar gases para usos industriais. Os negócios se expandiram com a demanda por oxigênio das siderúrgicas e de nitrogênio das fábricas de produtos químicos. Nos anos 1930, as empresas começaram a abastecer os hospitais com oxigênio e óxido nitroso, que é usado como anestesia. A partir dos anos 1980 esse mercado se expandiu e incluiu os serviços de saúde domésticos.

"É possível que a saúde acabe superando as divisões industriais em algumas dessas empresas", disse Markus Mayer, analista do Baader Bank.

As receitas do segmento de saúde da Air Liquide subiram uma média de 8 por cento ao ano desde 2011 e no ano passado se expandiram a um ritmo duas vezes maior que o de suas operações industriais. Na Linde, que tem sede em Munique, os serviços de saúde respondem por cerca de um quarto das receitas da divisão de gás e subiram 7 por cento em 2015, contra um crescimento de 0,5 por cento de suas unidades de gás industrial.

"Nós continuaremos reforçando nossa posição de líderes mundiais" nos cuidados de saúde domésticos, disse o CEO da Linde, Wolfgang Büchele, a acionistas, em Munique, em 3 de maio. Büchele vem buscando o que chama de "internacionalização" do negócio e a empresa atualmente opera em 60 países.

Os EUA viraram um mercado chave para a Linde, que em dezembro passado fechou a compra da American HomePatient, com sede no Tennessee, por 174 milhões de euros. Isso ocorreu após a aquisição, em 2012, da provedora de serviços de saúde americana Lincare Holdings -- antiga subsidiária separada da Linde em 1917 -- por US$ 3,8 bilhões.

As grandes fornecedoras de gás dizem há tempos que a China e outros mercados em desenvolvimento são a próxima grande oportunidade de crescimento. Mas Patrick Lambert, analista da Raymond James em Londres, disse que o setor de saúde será difícil para elas em lugares nos quais há pouca tradição de visitas à domicílio de profissionais médicos.

"Fazer os pacientes evitarem os hospitais e buscarem cuidados de saúde em casa será fundamental para o crescimento nesses países", disse Lambert.

(Com a colaboração de Ania Nussbaum e Sheenagh Matthews)