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Empréstimo com taxa negativa fica próximo da realidade no Japão

Tesun Oh e Finbarr Flynn

10/05/2016 14h43

(Bloomberg) -- Os bancos do Japão podem receber em breve um incentivo para pagar aos mutuários por aceitarem empréstimos, se conseguirem levantar recursos a taxas ainda mais baratas.

Os empréstimos com taxas de juros negativas se tornaram mais do que uma possibilidade desde que o Banco do Japão (BOJ, na sigla em inglês) começou a cobrar taxas sobre o dinheiro inativo.

Agora, os credores podem tomar empréstimos por três meses no mercado interbancário de Tóquio com uma taxa anualizada de 6 pontos-base, valor mínimo recorde, em comparação com 17 pontos-base desde que o BOJ implementou a medida em janeiro.

Eles podem acabar recebendo dinheiro para emprestar e depois lucrar pagando menos para emprestar, segundo o Credit Suisse, o JPMorgan Chase e a SMBC Nikko Securities.

"É possível que bancos paguem juros aos mutuários se a Tibor se tornar negativa", disse Shinichiro Nakamura, analista sênior em Tóquio da SMBC Nikko Securities, unidade do segundo maior credor do Japão por valor de mercado. "Muitas empresas de capitalização elevada no Japão estão tomando emprestado recursos de bancos em torno do mesmo patamar que a Tibor".

Sem alegria

A perspectiva de pagar para emprestar não é animadora para os bancos japoneses, que já desaceleraram o crescimento de seus empréstimos para 2% em março em meio à diminuição das margens de lucro e à queda da confiança entre os clientes.

Empréstimos com taxas negativas prejudicariam as margens nos bancos, que têm dificuldades para cobrar aos clientes pelos depósitos, então eles se concentrarão em áreas como negócios com comissões e investimentos estrangeiros, segundo a Pacific Investment Management.

Se a Tibor cair para -0,2%, "faria sentido emprestar a -0,1% a empresas com pouco risco creditício", disse Nakamura, da SMBC Nikko. Ele projeta que o BOJ reduzirá em mais dez pontos-base os juros de algumas reservas, para -0,2%, até março de 2017.

Os bancos podem ser penalizados se aumentarem de forma significativa os ativos em dinheiro e, assim, "diminuírem" os efeitos das taxas negativas, segundo um comunicado publicado pelo BOJ no dia 29 de janeiro.

Há quem não acredite que empréstimos com taxas negativas sejam prováveis no Japão. O Conselho de Leis Financeiras do país, um comitê que presta assessoria sobre regulamentações bancárias, disse em um relatório que um credor provavelmente não pagaria ao mutuário a menos que haja um acordo especial entre ambos.

Sem política

Os papéis soberanos japoneses têm rendimentos negativos por causa das expectativas de que o BOJ comprará essas notas do mercado como parte de suas medidas de estímulo, porém o banco central não está buscando uma política como essa para os empréstimos, o que significa que os créditos com taxas negativas não ocorrerão agora, segundo Toshihiro Uomoto, o estrategista-chefe de créditos da Nomura Holdings em Tóquio.

Se os bancos japoneses emprestarem mesmo com taxas abaixo de zero, isso poderia afetar os lucros ou prejuízos.

"Como é complicado para os bancos cobrar taxas negativas aos clientes pelos depósitos, é provável que isso provoque uma compressão das margens líquidas de juros e uma deterioração da rentabilidade", escreveu em um relatório Raja Mukherji, diretor de pesquisa sobre crédito na Ásia da Pimco em Hong Kong.