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Investidores globais assumem mais risco por rentabilidade

Alexandra Scaggs, Eliza Ronalds-Hannon e Claire Boston

12/05/2016 15h46

(Bloomberg) -- Para os governos e empresas da Europa, dos EUA e da Ásia, este é um bom momento para vender títulos. Em todo o mundo, os investidores estão abocanhando quase tudo que gere rentabilidade.

Os leilões de dívidas de longo prazo dos EUA, da Espanha e de Portugal atraíram uma forte demanda na quarta-feira. A venda de títulos do Tesouro americano, por exemplo, registrou um apetite inédito de uma classe de investidores. Já o Japão vendeu notas com vencimento em 30 anos na quinta-feira a uma mínima recorde de 0,319%. Os compradores também estão se rendendo aos títulos de empresas em uma semana que poderia ser a mais movimentada deste ano em termos de emissão de dívidas corporativas nos EUA e na Europa.

O motor por trás dessa demanda desenfreada é o crescente universo de títulos com rendimento negativo, que chegou a mais de US$ 9 trilhões desde que o Banco Central Europeu e o Banco do Japão reduziram as taxas de juros para menos de zero. O JPMorgan prevê que, com a queda da oferta de dívida, as condições no mercado global de títulos serão tão favoráveis em 2016 que os yields provavelmente atingirão mínimas recorde.

"Em um mundo sedento por rentabilidade, onde uma porcentagem significativa das dívidas soberanas tem yield zero ou menor que zero, os investidores buscam rendimentos estendendo vencimentos, comprando crédito ou combinando ambos", disse Colin Lundgren, chefe de renda fixa em Minneapolis da Columbia Threadneedle Investments, que administrava cerca de US$ 470 bilhões até 31 de dezembro.

Risco e recompensa

Por um lado, a busca por retornos mostra que os esforços dos bancos centrais para empurrar os investidores para investimentos de maior risco têm sido bem-sucedidos. Mas o fenômeno faz também com que os compradores estejam cada vez mais vulneráveis aos calotes corporativos ou ao aumento das taxas de juros. No segundo caso, isto ocorre porque a dívida de maior duração, como as obrigações com vencimentos mais longos, sofre prejuízos mais agudos quando as taxas de juros sobem.

A duração efetiva do mercado de títulos mundial atingiu um recorde histórico neste mês, segundo os índices do Bank of America Merrill Lynch. Isto expõe os investidores ao risco em caso de mudança das visões sobre o caminho do Federal Reserve. Os traders estão, em essência, desconsiderando outro aumento nos juros pelo Fed por enquanto -- os futuros não refletem plenamente o próximo aumento até agosto de 2017, segundo dados compilados pela Bloomberg.

"No curtíssimo prazo, independentemente de estarem certos ou errados, nenhum investidor está realmente preocupado com o Fed", disse Lundgren. É cada vez mais importante "pesquisar e garantir que haja valor estendendo os vencimentos ou comprando crédito. Isto também vai passar, mas talvez não em um futuro próximo".

A demanda está animando os governos a emitir dívidas. As gestoras de fundos, os bancos centrais de todo o mundo e outras instituições entraram com tudo em um leilão de dívidas dos EUA com vencimento em 10 anos na quarta-feira. Aqueles que compraram por meio de dealers primários, classificados como ofertantes indiretos, levaram uma parcela recorde da venda. As notas de referência foram vendidas com o yield mais baixo em mais de três anos, em níveis que firmas como o Goldman Sachs consideram caros.

Alguns países europeus aproveitaram a oportunidade para assegurar baixos custos de financiamento de longo prazo. Os títulos portugueses tiveram desempenho melhor que o da maioria de seus pares da zona do euro na quarta-feira depois que o país superou sua meta em uma venda de títulos com vencimento em 10 anos.

Já a Espanha vendeu títulos de 50 anos, somando-se à tendência dos governos que estão oferecendo dívidas europeias ultralongas, as mesmas vistas na França e na Bélgica na semana passada. As subscrições por títulos da Espanha superaram os 10,5 bilhões de euros, diante de 3 bilhões de euros em emissões. A agência de dívidas da Itália disse em um comunicado, na terça-feira, que estava avaliando a demanda para uma possível venda de títulos com vencimento em 50 anos.