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Análise: Presidência da Petrobras é maior teste de Temer

Christopher Langner

13/05/2016 14h45

(Bloomberg) -- O presidente em exercício Michel Temer já agradou investidores ao nomear o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles ao Ministério da Fazenda. Enquanto o foco estava no novo gabinete, a Petrobras apresentou o terceiro prejuízo trimestral consecutivo, de R$ 1,25 bilhão.

O balanço não gerou muito noticiário, mas ressaltou o que pode ser um dos maiores desafios de Temer: escolher a nova liderança para a Petrobras e lidar com a situação financeira da empresa.

Embora a queda do preço do petróleo seja central aos apuros da empresa, a dívida vai causar mais dores de cabeça. A Petrobras é de longe a maior captadora de recursos do Brasil no mercado externo, com cerca de US$ 52 bilhões em títulos em moeda estrangeira em circulação. De acordo com o último balanço trimestral, vencem nos próximos 12 meses US$ 17,5 bilhões, o maior volume de obrigações de curto prazo que a Petrobras já teve de honrar.

A companhia ainda gera muito dinheiro -- US$ 4,4 bilhões só com as atividades operacionais no primeiro trimestre. Portanto, não existe expectativa de calote. Mas a empresa também queima caixa ao desenvolver e explorar poços de custo elevado em águas profundas.

A maioria das despesas é empregada no desenvolvimento das reservas do pré-sal, um empreendimento mais caro e complicado. A Petrobras resolveu bancar a conta em parte porque mantém sua previsão de longo prazo para a cotação do barril do tipo Brent em US$ 72.

Justificar essa projeção ficou mais difícil e a Petrobras deveria estar se questionando. De fato, a companhia começou a se livrar de ativos não essenciais e a dispensar funcionários, mas as mudanças precisam ser mais abrangentes.

O fato de a Petrobras ter demorado para reconhecer a nova ordem mundial de preço baixo do petróleo criou um debate sobre a necessidade de o governo resgatar a empresa. No mês passado, outro ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, fundador da Rio Bravo Investimentos, revelou estar entre os que consideram quase inevitável uma injeção de capital. Em janeiro, analistas do Citigroup estimaram que o potencial resgate poderia custar até US$ 21 bilhões.

Para Temer, gastar essa quantia logo no início de seu mandato traria críticas, para dizer o mínimo. O problema é que, se a situação financeira da Petrobras piorar e a empresa precisar reestruturar a dívida - um cenário ainda improvável --, aumentaria o custo de crédito para todo o Brasil. Os detentores daqueles US$ 52 bilhões em títulos fazem pouca distinção entre a dívida da Petrobras e a dívida soberana.

O certo é que o próximo presidente da Petrobras terá muito trabalho pela frente. Duvida-se que receba tantos aplausos dos investidores quanto Meirelles. E isso pode acabar sendo a maior prova de Temer.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e seus proprietários.