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Sinais do Fed confundem investidores e projeções divergem

Susanne Walker Barton e Catarina Saraiva

16/05/2016 15h21

(Bloomberg) -- Para Thomas Costerg, a grande questão para os investidores em títulos não é se o Federal Reserve aumentará as taxas de juros dos EUA neste ano.

A pergunta é quanto tempo passará até que o banco central seja obrigado a diminuí-las.

Como economista sênior do Standard Chartered, Costerg diz que o risco de recessão fará com que o Fed volte atrás na decisão de acabar com sete anos de taxas quase zeradas. Isso sustentará a demanda por títulos do Tesouro do país e levará os yields sobre a nota de referência com vencimento em dez anos para 1,6 por cento, uma das projeções mais baixas na última pesquisa da Bloomberg.

No extremo oposto do espectro está Stephen Stanley, da Amherst Pierpont Securities. Ele projeta que os yields deem um salto de mais de um ponto percentual, para 2,8 por cento, porque o crescimento da inflação e do emprego fará com que o Fed eleve as taxas duas vezes neste ano.

Essas perspectivas conflitantes são emblemáticas da falta de consenso em relação à direção da economia dos EUA - e do impacto disso no mercado de US$ 13,4 trilhões de títulos do Tesouro dos EUA. A divisão também reflete como os sinais ambíguos sobre política econômica de autoridades do Fed, a preocupação com a China e as taxas negativas na Europa e no Japão aumentaram os riscos para os investidores diante do afundamento dos yields e da disparada dos preços de papéis. Em 2016, a brecha entre projeções otimistas e pessimistas é mais ampla do que em qualquer um dos últimos três anos, já que surtos de volatilidade infestam os mercados financeiros.

Pesquisa

Nos últimos três anos, escutar os otimistas do mercado de títulos têm dado frutos. Desde que atingiram um pico de 3 por cento no fim de 2013, os yields sobre os títulos do Tesouro dos EUA com vencimento em dez anos despencaram porque números decepcionantes de inflação e salários e um crescimento global medíocre preservaram a demanda por ativos usados como refúgio.

Na pesquisa da Bloomberg feita em maio com 66 estrategistas e economistas, o BNP Paribas teve a projeção oficial mais baixa, de 1,5 por cento, ao passo que a Guerrilla Economics, empresa de pesquisa com sede no Brooklyn, teve a mais alta, de 3,53 por cento. Isso fez com que a diferença média entre a estimativa mais alta e a mais baixa aumentasse neste ano para 1,96 ponto percentual, a diferença mais ampla desde pelo menos 2013, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Stanley, economista-chefe da Amherst Pierpont, que figura constantemente entre os analistas mais pessimistas do mercado de títulos nas pesquisas feitas pela Bloomberg, diz que os analistas do mercado estão subestimando o potencial de crescimento da economia americana.

Embora a inflação geral continue abaixo de 1 por cento, os preços ao consumidor excluindo os custos voláteis de alimentos e da energia ultrapassam 2 por cento há cinco meses consecutivos. É a sequência mais prolongada desde o começo de 2012. Os salários também aumentaram, com um crescimento médio de 2,4 por cento neste ano em relação ao anterior, o mais alto em sete anos.

Sinais conflitantes

Parte da disparidade entre os analistas tem a ver com os sinais conflitantes transmitidos por autoridades do próprio Fed.

No dia 12 de maio, a presidente do Fed de Kansas City, Esther George, reafirmou sua previsão de aumento das taxas dizendo que os patamares atuais são "baixos demais para as condições econômicas de hoje". Um dia depois, uma das diretoras do Fed, Lael Brainard, disse que o banco central corre o risco de atuar rápido demais caso subestime o impacto que as principais economias do mundo poderiam ter sobre o crescimento nos EUA.

Antes, as projeções "se baseavam exclusivamente no ciclo de negócios", disse Krishna Memani, que administra US$ 204 bilhões como diretor de investimentos da Oppenheimer Funds. "O que está acontecendo em termos de flexibilização de políticas em todo o mundo tem tido um impacto maior".