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Evitar calote da dívida significa mais escassez a venezuelanos

Christine Jenkins e Nathan Crooks

17/05/2016 12h39

(Bloomberg) -- A decisão do governo da Venezuela de reduzir as importações ao menor valor em 12 anos pode evitar um calote neste ano, mas quase certamente vai exacerbar a escassez de produtos básicos, como remédios e papel higiênico.

O país vai diminuir a compra de produtos do exterior de US$ 37 bilhões em 2015 para aproximadamente US$ 20 bilhões, disse na semana passada o diretor de Política Econômica, Miguel Perez Abad.

O corte significa que a Venezuela terá dinheiro suficiente para honrar os pagamentos de seus títulos em 2016, de acordo com Eurasia Group e EMSO Asset Management. A Eurasia previa que o país poderia suspender o pagamento de dívidas neste ano por causa dos preços baixos do petróleo e da pior recessão em décadas. O mercado de swaps indica que a chance de moratória pela Venezuela ao longo do próximo ano é de 63 por cento, comparado a uma probabilidade implícita de 83 por cento em fevereiro. Embora a redução das importações aumente a capacidade de pagamento de dívidas, ela dificulta a vida dos venezuelanos, que já enfrentam prateleiras vazias nos supermercados e a maior inflação do mundo. O Fundo Monetário Internacional estima que os preços ao consumidor vão subir quase 500 por cento neste ano.

O governo da Venezuela "continua superando todas as expectativas de quanto está disposto a reduzir importações e quanta dor está disposto a impor ", disse Risa Grais-Targow , analista da Eurasia. "As importações mais sensíveis politicamente são obviamente de produtos básicos e medicamentos - os medicamentos em particular estão ficando mais problemáticos em termos de administrar a dinâmica política. É definitivamente um potencial ônus para o governo."

Perez Abad disse que as autoridades não estão sacrificando necessidades básicas para pagar detentores de títulos.

"Alimentos e produtos farmacêuticos e de higiene pessoal estão garantidos", declarou ele durante entrevista em seu gabinete em Caracas em 13 de maio. "Não é algo que nos preocupe. Vamos manter esse nível de restrição às importações para forçar o aparato produtivo da economia a aumentar a produção."

Perez Abad também disse que a Venezuela continuará utilizando as reservas internacionais para ajudar a cumprir obrigações. As reservas alcançaram US$ 16,4 bilhões no fim de 2015 e diminuíram para US$ 12,2 bilhões, o menor nível em 13 anos. A China concordou em flexibilizar alguns termos dos acordos bilaterais de financiamento para "levar em conta as mudanças nos preços internacionais do petróleo", publicou a agência oficial de notícias Xinhua, citando um porta-voz do Ministério do Exterior.

Na Venezuela, os chamados bachaqueros ganham a vida comprando itens básicos a preços definidos pelo governo e vendendo no mercado negro. A empresa de pesquisas Datanalisis, sediada em Caracas, diz que mais de um-quarto da população se envolveu nessa prática ao longo do último ano.

Na segunda-feira, o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, afirmou que as condições para os venezuelanos são "terríveis". A Casa Branca está "bastante preocupada com o bem-estar do povo da Venezuela e estamos juntos com a comunidade internacional na expressão dessa preocupação", ele disse.