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Bancos-butiques dos EUA lideram onda de reestruturação no Brasil

Cristiane Lucchesi

18/05/2016 17h50

(Bloomberg) -- Três bancos-butiques de investimento americanos estão dominando os serviços de assessoria a credores e empresas na maior onda de reestruturações da história brasileira.

PJT Partners, Moelis e Houlihan Lokey ajudam a negociar US$ 21 bi dos US$ 27 bi em dívida externa atualmente em reestruturação no País na pior recessão em um século.

"Empresas americanas têm vantagem competitiva por conhecer os investidores internacionais e os procedimentos dos EUA para recuperação judicial melhor que os competidores locais, ao mesmo tempo que não têm conflito de interesse porque não oferecem nenhum tipo de crédito a empresas brasileiras", disse Nick Leone, sócio da PJT, em entrevista em Nova York.

Pedidos de recuperação judicial atingiram recorde no Brasil este ano com o aperto de crédito deixando muitas empresas sem acesso a financiamento. O câmbio está dificultando o pagamento de dívidas denominadas em dólar, que mais que dobrou desde 2007, para US$ 120 bilhões. Ao mesmo tempo, receita e lucros também caíram nas principais empresas no segundo ano consecutivo de desaceleração econômica, inclusive com o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, paralisando os esforços para reformas econômicas.

O Moelis abriu seu escritório em São Paulo em março de 2014 e tem cerca de 15 funcionários no país, disse Otávio Guazzelli, co-diretor de banco de investimento para Brasil da empresa sediada em Nova York. Guazzelli anteriormente chefiou o banco de investimento para o Citigroup e BR Partners.  Jorio Salgado-Gama, que administra o negócio com Guazzelli, é o ex-líder do negócio de assessoria em fusões e aquisições da BR Partners e também trabalhou no Citigroup.

Moelis está fornecendo assessoria na maior reestruturação do Brasil, representando os detentores de títulos no exterior da Oi, empresa de telefonia mais endividada do país, com cerca de R$ 49,4 bilhões em dívida em março. Também está ajudando empresas em negociações locais, incluindo Log-In Logística Intermodal, que está refinanciando R$ 481 milhões em empréstimos bancários.

"Nós continuamos a expandir nosso escritório no Brasil já que nosso negócio estratégico e de consultoria financeira é muito ativo no momento", disse Guazzelli, acrescentando que "uma presença local relevante é uma vantagem competitiva fundamental, pois nos ajuda a entender melhor as prioridades dos clientes". Ele não quis comentar sobre casos específicos.

Negócio da Oi

O PJT, banco de investimento com sede em Nova York que não tem um escritório no Brasil, está aconselhando a Oi sobre a melhor forma de reestruturar sua dívida, a empresa disse em um comunicado em 10 de março. O banco também está aconselhando a Gol Linhas Aéreas Inteligentes, que tem dívida de US$ 2,6 bilhões, e a Odebrecht Óleo & Gás, com US$ 3 bilhões em títulos internacionais, de acordo com as empresas.

CJ Brown e Nick Leone, que se juntaram ao PJT como sócios vindos da Blackstone, lideram o negócio de reestruturação no Brasil. Na Blackstone, eles assessoraram a OGX do ex-bilionário Eike Batista no caso de falência da empresa em 2013, um recorde, que incluiu US$ 3,6 bilhões em títulos internacionais.

O PJT contratou em agosto o presidente do conselho do Morgan Stanley para a América Latina, Christopher Harland, como sócio para a equipe de assessoria de fusão e aquisição. Harland, que passou 32 anos no Morgan Stanley, terminou seu período de quarentena no final do mês passado e agora pode ajudar a equipe de reestruturação do PJT na venda de ativos para as empresas brasileiras.

Houlihan Lokey

Derek Pitts, diretor-gerente do Houlihan Lokey, está assessorando detentores de títulos da Gol, Odebrecht Óleo e Gás e do Grupo Schahin. O banco de investimento com sede em Los Angeles não tem escritórios no Brasil, mas mantém parcerias com butiques de reestruturação locais. Pitts disse que o Houlihan Lokey pode aumentar seus investimentos no Brasil, sem especificar como.
PJT e Houlihan Lokey também preferiram não comentar sobre clientes específicos.

Kenneth Moelis

O Moelis foi fundado pelo ex-banqueiro do UBS Kenneth Moelis e fez sua oferta pública inicial de ações em março de 2014.

O PJT foi formado no ano passado, quando Paul J. Taubman fundiu sua empresa com o negócio de consultoria da Blackstone e a empresa combinada foi dividida da gigante de private equity. O banco de investimento começou a ser negociado como uma empresa independente na bolsa de New York em outubro.

A crise de crédito corporativo do Brasil deve durar enquanto a economia se contrair e as taxas de juros continuarem altas. Empresas que buscam proteção legal de seus credores subiram para 571 este ano, até abril, um aumento de 97,58 por cento sobre o mesmo período de 2015, de acordo com o Serasa Experian.

"Mesmo neste ambiente difícil, algumas empresas esperaram muito tempo para iniciar as negociações de reestruturação com os credores, levando a uma solução mais difícil e complexa", disse Guazzelli do Moelis.

Título em inglês: U.S Boutiques Take Lead in Restructuring Brazil Fallen Giants

Para entrar em contato com o repórter: Cristiane Lucchesi em São Paulo, clucchesi5@bloomberg.net, Para entrar em contato com os editores responsáveis: Telma Marotto tmarotto1@bloomberg.net, Taís Fuoco

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