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Vício chinês em dívidas persiste com 1 tri de yuans em emissões

19/05/2016 15h04

(Bloomberg) -- Bancos globais estão refazendo os cálculos sobre a aparente desaceleração da tomada de empréstimos pela China em abril. Agora é preciso incluir 1 trilhão de yuans (US$ 153 bilhões) em títulos emitidos por governos regionais. A conclusão é que o vício em dívidas persiste.

Incluindo a venda recorde de bônus municipais, o financiamento social total deu um salto de 17 por cento, o maior desde 2014, para 1,76 trilhão de yuans, de acordo com estimativas do UBS Group AG. O crescimento no crédito total ajustado subiu de 17,1 por cento em março para 17,7 por cento, segundo o Deutsche Bank AG. Divulgado na sexta-feira passada, o dado oficial, que exclui empréstimos tomados por governos locais, apontava queda de 29 por cento para 751 bilhões de yuans.

O Banco Popular da China ficou tão alarmado com a percepção de que estava dando menor apoio ao crescimento que destacou o financiamento por províncias e cidades durante o fim de semana. Laurence D. Fink, responsável pela maior gestora de recursos do mundo, a BlackRock Inc., está entre os investidores que defendem que a China cresça mais lentamente e reduza seu endividamento. A dívida total do país aumentou de 164 por cento do PIB em 2008 para 247 por cento no ano passado.

"O banco central não tem intenção de apertar tão cedo porque a recuperação ainda é desequilibrada", disse Harrison Hu, economista-chefe para China do Royal Bank of Scotland Plc em C ingapura. "Bônus de governos locais são mais seguros do que créditos do sistema bancário paralelo, mas não aliviam o ônus da dívida para governos locais: apenas diminuem os custos de serviço e ampliam o prazo de vencimento da dívida."

Disparada no endividamento

A tomada de recursos por autoridades regionais disparou em 2008, durante a crise financeira global, quando o governo incentivou as províncias a aumentar os gastos em infraestrutura. Na época, as autoridades regionais eram proibidas de vender títulos diretamente, então levantavam fundos por meio de veículos de financiamento de governos locais montados para projetos específicos.

No ano passado, foi permitida a troca dessas dívidas de custo alto por títulos municipais. Em março, o ministro das Finanças, Lou Jiwei, informou que aproximadamente 5 trilhões de yuans desses empréstimos vão vencer em 2016 e precisam ser refinanciados. O principal órgão legislador do país também deu autorização para as autoridades regionais venderem 1,18 trilhão de yuans em novas dívidas para ajudar a cobrir o déficit público.

No ano passado, o limite autorizado foi de 600 bilhões de yuans. A emissão de títulos municipais subiu para 1 trilhão de yuans em abril, elevando o total do ano para 2,3 trilhões. O rendimento da dívida soberana com prazo de 10 anos avançou 6 pontos-base neste mês para 2,96 por cento, a maior taxa desde dezembro.

"O crescimento do crédito na China como um todo ultrapassou a meta anual implícita", afirmaram os economistas do UBS Zhang Ning e Wang Tao, em relatório divulgado em 13 de maio. Segundo eles, o crédito não foi apertado quando considerado o ajuste para as trocas de dívidas dos governos locais.

Moody's Investors Service e S&P Global Ratings pioraram as perspectivas para as notas da China em março, citando a falta de progresso das autoridades em lidar com o endividamento. No mês passado, o megainvestidor George Soros afirmou que, no sentido do incentivo ao crédito, a economia chinesa lembra a dos EUA logo antes do estouro da crise financeira global.