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Análise: Governo Temer enfrenta teste com Lava Jato

Josué Leonel e Paula Sambo

23/05/2016 14h03

(Bloomberg) -- O otimismo do mercado com o governo interino de Michel Temer sofreu um abalo com a revelação, feita pela Folha de S. Paulo, de conversa gravada entre o ministro do Planejamento, Romero Jucá, e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, na qual eles discutem sobre um pacto para barrar as investigações da Lava Jato.

Por enquanto, a reação do mercado ainda é relativamente comedida, com o dólar subindo em torno de 1,5%. Analistas ainda têm dúvidas sobre os desdobramentos das denúncias, que envolvem um ministro que teria o papel de negociar no Congresso reformas vitais para a recuperação da confiança dos investidores, como a da Previdência. O consenso é que os solavancos no mercado vão aumentar se as denúncias persistirem.

A gravação com Jucá mostra que a Lava Jato, um dos fatores que precipitaram a queda de Dilma Rousseff, é também um risco para Temer, diz Ricardo Ribeiro, analista da consultoria MCM. Para ele, é uma evidência dos riscos de instabilidade no novo governo, que o mercado considerava mais apto a encaminhar as reformas no Congresso do que o governo Dilma.

As pressões para que Jucá deixe o governo devem aumentar, diz o consultor da MCM. Em entrevista nesta segunda-feira, o ministro disse que não vê qualquer razão para pedir demissão. A coluna de Lauro Jardim, do site do jornal O Globo, afirma que Temer decidirá até amanhã sobre o futuro de Jucá e a tendência é o ministro deixar o governo.

A tensão no gabinete de Temer surge em um momento de pausa no rali que precedeu o impeachment de Dilma e a posse de Temer. Um dos motivos desta pausa é a aposta em alta dos juros nos EUA, que aumentou após a ata da última reunião do BC americano e deixou o mercado de sobreaviso para a fala de dirigentes do Fed nesta semana. Ou seja, a notícia sobre as gravações de Jucá encontrou um mercado naturalmente mais sensível a notícias negativas.

Para Leonardo Monoli, sócio e diretor da Jive Asset, as gravações de Jucá não devem gerar uma crise, paralisando totalmente as votações, mas o desdobramento da notícia nas vésperas da votação da meta fiscal merece atenção. "Não digo que paralisa, mas aumenta a expectativa para essa primeira importante votação".

Ribeiro, da MCM, considera que a mudança da meta fiscal deve ser aprovada nesta semana no Congresso. Não interessaria ao Congresso inviabilizar o governo logo de partida, o que prejudicaria a própria liberação de emendas para os parlamentares. "Sem a meta, não tem dinheiro para ninguém", diz Ribeiro. No caso de reformas exigem 2/3 dos votos, porém, os riscos são maiores. A gravação de Jucá, mostrou que haverá um "risco efetivo" para a viabilidade do governo no caso de as denúncias continuarem, diz o consultor.