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Ônus do serviço da dívida é o mais leve desde quebra do Lehman

Luke Kawa

23/05/2016 14h17

(Bloomberg) -- Que ninguém perca o sono com a disparada dos calotes no mercado internacional de títulos corporativos ou sinais de que os problemas de solvência podem não se restringir ao setor de commodities, diz o JPMorgan Chase & Co. 

Segundo a equipe liderada pelo diretor-gerente Nikolaos Panigirtzoglou, no agregado, o grau de facilidade de empresas, famílias e governos do mundo para honrar suas obrigações é o maior em quase uma década, apesar da alta constante do endividamento mundial, puxada pela China.

"Emissores governamentais e corporativos estão aproveitando a forte demanda dos investidores para ampliar os prazos de suas dívidas", escreveram os estrategistas. "A diminuição dos cupons para as mínimas e o aumento dos prazos para as máximas são claramente observados no índice Barcap Multiverse, o índice de bônus mais abrangente do mundo."

As causas são muitas, incluindo um tsunami de cortes de juros, trilhões de dólares em compras de ativos pelos principais bancos centrais, expectativas de inflação do mercado relativamente inertes, investidores em busca de rendimento e um teto esperado mais baixo para as taxas básicas de juros no futuro.

Em maio, o cupom médio havia recuado para 3 por cento, enquanto o prazo médio sob o índice Barcap Multiverse passou de 8,5 anos pela primeira vez, de acordo com Panigirtzoglou e seu time.

Usando o PIB como referência para a renda, a equipe do JPMorgan concluiu que um múltiplo para o serviço da dívida ajustado para renda mostra que, "embora a razão dívida-PIB total venha subindo no mundo como um todo desde 2011, a parcela do serviço da dívida vem caindo e atualmente está em 33 por cento, o mesmo nível observado durante 2007, antes da crise do Lehman".

Essa métrica até subestima a facilidade recente dos setores públicos e privado em suportar volumes de dívidas cada vez maiores, argumenta a equipe de Panigirtzoglou. 

"Em um mundo onde é fácil rolar dívidas, as despesas com juros tornam-se uma métrica mais importante para avaliar a sustentabilidade das dívidas", escreveram. Atualmente em 7%, a razão entre despesas com juros e PIB está bem abaixo do pico registrado em 2008, de 11% do PIB e bem abaixo do nível pré-crise de 10% visto durante 2007."

Não só isso, os países com as proporções mais elevadas entre despesas com juros e PIB, como China e Brasil, têm espaço para baixar juros de forma agressiva, de modo a ajudar os setores público e privado a sustentar seus volumes de dívida no futuro.

Sob um cenário relativamente otimista -pelo menos do ponto de vista dos emissores-, no qual a cotação do petróleo se estabiliza e a inflação permanece baixa, o "círculo virtuoso" descrito pela equipe do JPMorgan pode continuar indefinidamente, resultando em um ciclo de calotes menos severo.

"À medida que os vencimentos das dívidas são ampliados, os emissores de dívida estão reduzindo os custos de serviço da dívida e criando ainda mais demanda por suas dívidas e a sustentabilidade da dívida melhora", escreveram.

O medo é que um "mundo onde é fácil rolar dívidas" fique menos inclinado a isso, caso as muitas condições que proporcionaram esse aumento de endividamento e prazos comecem a se dissipar.