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Análise: Uma obsessão nada saudável com o Fed

Narayana Kocherlakota

24/05/2016 12h55

(Bloomberg) -- Por que os mercados e a mídia estão tão obcecados com quando será o próximo aumento de juros pelo Federal Reserve? A própria intensidade dessa atenção revela um problema maior: o não entendimento do objetivo final do Fed.

Ultimamente, o calendário tem dominado tudo o que se comenta sobre o banco central americano. Os investidores estão focados no que acontecerá na próxima reunião de política monetária em junho. A ata da reunião de abril, divulgada na semana passada, levou muita gente a apostar em uma elevação de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros. Quando participam de eventos públicos, os representantes do Fed invariavelmente ouvem perguntas sobre o número provável de acréscimos nos juros em 2016 e 2017.
Por si só, o momento escolhido para subir os juros não merece tanta atenção. 

Consideremos dois cenários possíveis. No primeiro, o Fed começa a elevar a taxa em junho e acrescenta mais 0,25 ponto percentual em reuniões alternadas (uma vez a cada três meses) durante os próximos três anos. No segundo cenário, o Fed espera até o segundo semestre de 2017 e então acrescenta 0,25 ponto percentual em cada uma das próximas doze reuniões. Este último cenário descreve uma política monetária um pouco mais relaxada, mas, segundo a maioria dos modelos econômicos, quase não haveria diferença em termos do efeito sobre inflação ou nível de emprego.

A obsessão com quando o Fed vai agir provavelmente tem outra motivação: quem está de fora busca sinais sobre os objetivos mais amplos do banco central americano para a política monetária.

O objetivo declarado do Fed é manter a inflação em 2 por cento no longo prazo, mas suas decisões dão uma sinalização distinta. Por exemplo, houve retirada de estímulos nos últimos três anos, mesmo com a queda dos índices de inflação e das expectativas de inflação. As projeções econômicas dos integrantes do Fed também sugerem que, para eles, a volta rápida da inflação à meta não é o determinante primário da política monetária.

Aparentemente, o Fed tenta equilibrar a busca da meta de inflação com outros objetivos. Seus representantes já deram diversas ideias sobre quais seriam esses objetivos. Alguns temem que os juros baixos estejam levando ao acúmulo de riscos e distorções no sistema financeiro. Alguns revelam a necessidade de evitar que a taxa de desemprego caia para um nível insustentavelmente baixo. Alguns acham que subir os juros em cada reunião -- e não em reuniões alternadas - seria um choque muito grande para a economia.

A forma como os integrantes do Fed ponderam essas considerações e a meta de inflação vai influenciar a decisão deles não só em junho, como também nos encontros seguintes e sempre que surgir um desafio econômico. Por exemplo, um representante do banco central preocupado com distorções no mercado financeiro talvez não dê apoio a um corte agressivo nos juros em resposta a uma recessão. É difícil saber quais objetivos terão predominância no longo prazo. Assim, os mercados tentam extrair o máximo possível de informações da decisão que será tomada em junho.

Esse tipo de incerteza - sobre quais objetivos definirão as políticas do Fed - não é saudável. Consumidores e empresas não podem tomar boas resoluções se não imaginarem como o banco central agirá em determinada situação. Os integrantes do Fed precisam de um conjunto bem mais transparente de objetivos compartilhados para administrar a economia.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial da Bloomberg LP e seus proprietários.