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Rússia diz que EUA agiram para reduzir demanda por títulos

Ryan Chilcote, Lyubov Pronina e Natasha Doff

25/05/2016 12h27

(Bloomberg) -- O organizador da emissão de títulos da Rússia, nomeado pelo Estado, acusou a interferência política dos EUA e da Europa para reduzir a demanda pela primeira venda de papéis do governo desde que o país sofreu sanções há dois anos.

Investidores estrangeiros como Aberdeen Asset Management e Allianz Global Investors Europe em Londres decidiram não comprar a dívida por causa do receio de ter dificuldades para vendê-la, porque a transação não é apta para liquidação no Euroclear Bank, o maior depositário para o mercado de títulos em euros. A venda de papéis por US$ 1,75 bilhão se compara com uma emissão estrangeira orçada em US$ 3 bilhões neste ano.

"O problema é o mesmo para todos", disse Andrey Kostin, CEO da VTB Group, a controladora do subscritor VTB Capital, em entrevista à Bloomberg TV nesta quarta-feira. "Há uma grande pressão política de instituições financeiras nos EUA e na Europa".

O VTB foi obrigado a organizar a emissão sem ajuda de subscritores internacionais depois que os EUA e a União Europeia frustraram a tentativa da Rússia de contratar bancos como Goldman Sachs Group e Deutsche Bank para administrar a venda em fevereiro. Embora o VTB ainda esteja negociando com o Euroclear, neste momento os títulos só podem ser liquidados por meio do sistema depositário da Rússia, disse Kostin.

'Não entendemos'

Conforme as penalidades impostas por causa do conflito na Ucrânia em 2014, muitas empresas estatais estão impedidas de participar dos mercados de capitais estrangeiros, mas o governo em si está isento. As advertências de vários órgãos, como o Departamento de Estado dos EUA e o grupo de bancos que trabalhava regularmente com a Rússia antes da imposição das sanções internacionais, tiveram "um efeito muito negativo" sobre seus assessores, disse ele.

"Não entendemos isso porque a emissão ou a colocação de um título soberano não está sujeita a sanções", disse Kostin. "Continuaremos negociando com o Euroclear e talvez possamos usar seus serviços em uma etapa posterior".

Os principais compradores vieram do Reino Unido, disse o diretor do departamento de dívida do Ministério das Finanças. Mais de 70 por cento foi colocado com investidores estrangeiros depois que a participação doméstica foi limitada a um máximo de 30 por cento, disse Kostin. Talvez a Rússia considere recorrer novamente aos títulos em euros se observar que a demanda continua no mercado secundário, disse ele.

"Esperamos que haja uma boa demanda pelo papel no mercado secundário, o que poderia possibilitar que façamos uma colocação adicional neste ano se o Ministério das Finanças estiver interessado", disse Kostin. O Ministério atuará como agente pagador na nova venda desta semana.

Os EUA e a UE advertiram aos bancos que a transação poderia infringir indiretamente as sanções dependendo do local para onde o montante arrecadado for canalizado. O prospecto de dívida da Rússia contém a garantia de que os fundos captados na venda complementarão reservas e não serão transferidos a nenhuma empresa da lista negra.