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Análise: Reunião da Opep deve ter muito debate e nenhuma decisão

Julian Lee

30/05/2016 14h17

(Bloomberg) -- Assim como uma obsoleta lâmpada incandescente, a reunião na quinta-feira da Organização dos Países Exportadores de Petróleo vai gerar muito calor e pouca luz. Pelo menos nada vai congelar.

A Arábia Saudita verá poucas razões para mudar a direção da política introduzida em novembro de 2014. Ao não concordar com a redução da meta de produção, o reino colocou o grupo em uma trajetória de proteção de participação de mercado, diante da disparada na produção de petróleo de xisto nos EUA. Agora, o mercado está se corrigindo por meio da oferta cada vez menor de países não integrantes da Opep.

Porém, a pressão sobre alguns produtores ficou sufocante. Ninguém previa que os preços do barril permaneceriam baixos por tanto tempo. Dentro do grupo, as vozes que defendem algum tipo de medida estão mais altas e as divisões estão mais profundas.

Aparentemente, as divisões dentro da Opep vêm piorando. A perspectiva de congelamento da produção -- que parecia certeira para muitos há apenas um mês - se esvaiu completamente com a elevação do preço do combustível e com a adoção de posições mais rígidas por Irã e Arábia Saudita.

Enquanto isso, é baixíssima a probabilidade de o grupo reestabelecer a meta de produção que foi abandonada na reunião anterior.

De um lado estão as nações da Península Arábica, com populações pequenas e custos de produção baixos. Do outro lado está o resto.

Neste resto, se sobressai a Venezuela, que, depois do tombo da cotação do petróleo, já queimou mais de um terço de suas reservas em ouro para cobrir as contas públicas. A Argélia não conseguiu retomar a produção e registra déficit em conta corrente pela primeira vez em uma década.

Pedidos de medidas para subir os preços do barril encontrarão ouvidos surdos. A posição da Arábia Saudita sobre o que configura o melhor plano para a Opep não mudou.

Com o petróleo novamente próximo de US$ 50, o reino vê ainda menos razão do que na reunião anterior para mudar uma postura que parece estar funcionando no sentido de conter o avanço de rivais com custos de produção maiores.

A visão dos sauditas sobreviveu à troca do ministro do Petróleo e o recém-empossado não será a única cara nova no debate da Opep. Essa mudança ajudará a dar o tom das conversas.

Com as trocas no alto escalão de várias delegações, talvez os ministros cheguem ao encontro com menos peso nas costas e tenham mais facilidade para estreitar suas diferenças.

Porém, o mais provável é que os diversos novos ministros, com pouca experiência trabalhando em conjunto e poucos laços pessoais, terão maior dificuldade em encontrar pontos comuns. Agora só restam 4 dos 13 ministros que estavam envolvidos nas discussões de 2014, que levaram à adoção da atual estratégia.

As decisões da Opep são definidas por consenso. Portanto, é sempre mais fácil manter a política atual do que alterá-la. A inércia deve dominar novamente durante o encontro em Viena.

Também existe outro item na pauta, que já se mostra bastante polêmico. Os integrantes precisam escolher um novo secretário geral para substituir Abdallah al-Badri, que deixará o cargo em julho após várias extensões de mandato.

É um papel que exige habilidades diplomáticas de fato. Um bom secretário geral pode ajudar a facilitar o diálogo entre diferentes facções sem parecer que está de um lado ou de outro.

Os ministros não conseguiram chegar a um acordo sobre o sucessor. Circularam informações de que o assunto foi debatido por três horas durante a última reunião e não houve consenso.

Existem relatos de aumento das chances do nigeriano Mohammed Barkindo, que atuou como secretário geral em 2006 e tem apoio de Arábia Saudita e Irã, mas seu nome ainda não é unanimidade.

A Indonésia defende seu candidato, Mahendra Siregar, enquanto a Venezuela propõe Ali Rodriguez, que ocupou o cargo entre 2001 e 2002.
A esperança é que o surgimento de três novos candidatos permita que finalmente façam uma escolha. Só não dá para esperar que seja uma escolha fácil.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial da Bloomberg LP e seus proprietários.