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Financiamento regional na China preocupa S&P e Moody's

Bloomberg News

06/06/2016 14h48

(Bloomberg) -- As duas agências de classificação de risco que rebaixaram a perspectiva da dívida da China em março dizem que as iniciativas para levar transparência para as finanças regionais não erradicaram os métodos arriscados de arrecadação de fundos.

As vendas diretas de títulos de governos locais dispararam para o recorde de 2 trilhões de yuans (US$ 304 bilhões) desde 31 de março, frente a 906 bilhões de yuans no primeiro trimestre, alimentadas por um programa de swaps de dívida cara por valores municipais mais baratos.

A Moody's Investors Service e a S&P Global Ratings dizem que embora as notas municipais sejam uma forma mais transparente de levantar capital do que a prática anterior de utilizar instrumentos financeiros privados, a preocupação é que as autoridades continuam recorrendo a métodos de financiamento fora do balanço.

O problema foi destacado na semana passada, quando o Ministério das Finanças disse que os governos locais deveriam garantir que os subsídios outorgados a projetos de parceria entre os setores público e privado não provoquem riscos fiscais no futuro.

Na tentativa de combater o crescimento mais lento em 25 anos, o governo lançou cerca de 830 bilhões de yuans nesses programas nos últimos dois anos e planejou 1 trilhão de yuans nos chamados papéis financeiros especiais para financiar projetos de infraestrutura.

"Nossa perspectiva negativa sobre as notas de crédito soberanas da China reflete tanto o lento reequilíbrio econômico quanto os crescentes riscos financeiros", disse Kim Eng Tan, diretor sênior de notas de crédito soberanas da S&P Global Ratings em Cingapura.

A dívida não governamental continua crescendo com relativa rapidez e "o financiamento fora do balanço aumenta as incertezas no sistema financeiro que poderiam piorar o impacto de um possível choque econômico ou financeiro na China", disse ele.

Empréstimos

Os empréstimos tomados pelas autoridades regionais chinesas começaram a crescer vertiginosamente em 2008, durante a crise financeira global, quando o governo pediu que as províncias aumentassem os gastos em infraestrutura.

Na época, as autoridades regionais foram proibidas de vender títulos diretamente e por isso obtiveram fundos através de instrumentos de financiamento de governos locais criados para projetos específicos.

Os reguladores começaram a permitir a troca dessa dívida de custo alto por notas municipais no ano passado. Cerca de 3,2 trilhões de yuans em papéis foram emitidos para refinanciar dívidas antigas no ano passado, e de 5 trilhões a 6 trilhões de yuans serão emitidos neste ano e em 2017.

Separadamente, a principal legislatura do país quase dobrou a cota de emissões novas, de 600 bilhões de yuans em 2015 para 1,18 trilhão de yuans para este ano.

A S&P rebaixou em março a perspectiva para a nota de crédito da China de estável para negativa, argumentando que os riscos econômicos e financeiros para a solvência do governo estavam aumentando gradualmente.

As lacunas no financiamento de todas as províncias chinesas se ampliaram no ano passado, com um déficit agregado estimado em 1,3 trilhão de yuans, segundo um relatório da S&P publicado em abril.

A Moody's fez uma revisão similar naquele mesmo mês e mencionou o enfraquecimento das métricas fiscais e o aumento das obrigações contingentes. A China não "se importa tanto" com a decisão da Moody's, disse o ministro das Finanças, Lou Jiwei, e o órgão regulador dos ativos estatais do país disse na semana passada que as agências de classificação de risco deveriam ser objetivas na avaliação da economia e das empresas estatais.

"Nossa expectativa é que o governo continuará mantendo o crescimento econômico perto da meta com mais investimentos públicos nos próximos anos", disse Tan, da S&P. "Isso é acompanhado de um aumento na alavancagem, que traz consigo um maior risco financeiro".