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Análise: Investidor de ações não se preocupa com Brexit

Mark Gilbert

14/06/2016 15h16

(Bloomberg) -- O referendo no Reino Unido na semana que vem sobre permanência ou saída da União Europeia começa a assustar os mercados financeiros. A libra esterlina teve um mal súbito com a perspectiva de vitória da secessão.

No entanto, uma sondagem sobre as atitudes dos gestores globais de recursos em relação às ações britânicas mostra como é difícil prever as eventuais consequências econômicas do chamado Brexit.

Ninguém sabe ao certo o resultado do referendo de 23 de junho. As pesquisas de opinião --desacreditadas após o fracasso na previsão do resultado das eleições do ano passado - mostram eurofóbicos e eurófilos páreo a páreo.

No mundo das apostas, que se saiu ligeiramente melhor nas últimas eleições gerais, os lances pela permanência têm perdido terreno para os lances pela saída nas últimas semanas.

Isso ajudou a derrubar a libra para o menor nível em dois meses em relação ao dólar. As apostas em desvalorização adicional por fundos de hedge e outros investidores estão no maior patamar desde junho de 2013.

Uma pesquisa divulgada na sexta-feira pela ORB/Independent, mostrando vantagem de 10 pontos para o time do Brexit, desencadeou a maior queda da libra desde fevereiro e ampliou a perda acumulada neste ano para mais de 4 por cento.

Já na bolsa britânica, tudo parece mais calmo. Na maior parte deste ano, as ações britânicas andaram desfavorecidas pelos investidores internacionais, que reduziram a presença desses papéis em suas carteiras para proporções menores do que as sugeridas pelos índices de referência, de acordo com dados compilados pela LuxArbor Institutional Positioning, que acompanha alocações de ativos.

Mas em maio os fundos globais no quartil de melhor desempenho haviam migrado para uma posição neutra. No começo deste mês, o quartil de pior desempenho entrou na onda e a alocação média em ações britânicas nas carteiras se tornou ligeiramente maior do que a sugerida pelos índices de referência.

Segundo a LuxArbor, 59% dos investidores globais têm aplicações acima do peso proporcional em ações britânicas, comparado a apenas 20% há um mês.

Vale notar que o índice FTSE 100, composto pelas maiores empresas do Reino Unido, acumula queda de menos de 3% neste ano em libras. Já o índice Stoxx Europe 600 recuou mais de 10 por cento em euros.

Talvez os investidores confiem que os britânicos votarão por ficar na UE. "O resultado pela permanência reduziria a incerteza e traria de volta a confiança dos empresários, o que seria positivo para as ações britânicas", afirmou a LuxArbor em comunicado à imprensa distribuído na sexta-feira. Mas talvez os gestores de fundos não se abalem com a perspectiva de saída do Reino Unido do bloco. Por que?

A libra esterlina pode desabar para o menor valor em 30 anos se o Reino Unido decidir sair da UE, de acordo com uma pesquisa da Bloomberg com economistas. Esse movimento tornaria os ativos britânicos uma pechincha para investidores estrangeiros.

A comparação de dados do Deutsche Bank sobre o valor da libra ponderado pelas trocas comerciais com dados do Escritório de Estatísticas Nacionais sobre fluxos de investimento sugere que a libra mais fraca tende a acelerar o investimento estrangeiro direto.

Ninguém sabe se essa aceleração ocorreria com o Reino Unido fora da UE - e antes da conclusão de novos acordos comerciais. Nem as ações britânicas estão imunes a preocupações relativas ao Brexit.

Sob diversos cenários, a saída resultaria em diminuição das compras de ativos britânicos por estrangeiros (incluindo imóveis residenciais) e alargamento de um déficit em conta corrente já grande. As ações de quase 80 componentes do FTSE 100 caíram na segunda-feira, com a notícia da vantagem de 10 pontos para o time da saída da UE, mas as quedas foram relativamente pequenas.

Os gestores de fundos parecem pensar que as bolsas de apostas estão certas ou que as companhias britânicas são fortes o bastante para atravessar a tempestade. Seja qual for o resultado, planejam sair ganhando com o referendo.

(Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do comitê editorial da Bloomberg LP e seus proprietários.)