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Análise: Rendimento alemão negativo evidencia exaustão do BCE

Mark Gilbert

17/06/2016 14h56

(Bloomberg) -- A Alemanha entrou nesta semana para o clube de elite dos que podem levantar fundos para uma década a uma taxa de juros menor que zero. Outros países da zona do euro, como França, Espanha e Itália, também estão aproveitando os custos de empréstimos de 10 anos em mínimas recorde ou perto delas.

Os rendimentos negativos da Alemanha são o sinal mais forte de que o Banco Central Europeu está fracassando em sua tentativa de revigorar a vivacidade que levaria a inflação de volta à meta de 2%.

O rendimento sobre o bund alemão com vencimento em 10 anos caiu para a mínima recorde de -0,038% na quinta-feira, dois dias depois de ter se tornado negativo pela primeira vez na história.

Em parte, esse movimento reflete que os investidores buscam segurança porque estão preocupados com a votação da próxima semana sobre a participação do Reino Unido na União Europeia.

Mas também reflete um mal-estar mais amplo depois do aperto do crédito. "Se alguém quisesse um indicador simples que reflita um sistema financeiro quebrado, esse seria um forte candidato", disse Jim Reid, diretor global de estratégia de crédito do Deutsche Bank. Em poucas palavras, a flexibilização quantitativa está fracassando.

Há cada vez mais consenso de que a lei de rendimentos decrescentes está retrocedendo no que diz respeito aos esforços do BCE para reanimar a economia da zona do euro. Depois de intensificar seu programa de compra de títulos para 80 bilhões de euros (US$ 90 bilhões) por mês, o balanço do banco central deverá chegar a um recorde.

No entanto, o indicador preferido de Mario Draghi, o presidente do BCE, para as expectativas de inflação - a taxa de swap de expectativas de inflação em cinco anos, cinco anos seguintes - caiu para a mínima recorde de 1,35%, muito abaixo da meta de 2% do banco central.

Isso sugere que a perspectiva para a inflação na zona do euro está piorando ao invés de melhorar. Os preços para o consumidor caíram pelo segundo mês consecutivo em maio, com um recuo de 0,1%. A taxa média de inflação anual para os últimos três anos é de apenas 0,4%, o que significa que o risco de deflação continua vivo. E, como o próprio Draghi observou, a credibilidade de um banco central depende do cumprimento de sua missão.

Para sermos justos com o presidente do banco central, há um limite para o que a política monetária é capaz de fazer sozinha. Não que as autoridades europeias não reconheçam a necessidade de investimento em infraestrutura como um catalisador para o crescimento mais acelerado.

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, apresentou um programa especificamente para lidar com essa questão. Seu Fundo Europeu para Investimentos Estratégicos foi criado para fornecer 21 bilhões de euros em capital e alavancou 15/1 ao atrair fundos privados adicionais que concederiam o total de 315 bilhões de euros em investimentos.

Até agora, no entanto, o fundo assinou compromissos avaliados em apenas 1,8 bilhão de euros, embora tenha sido apresentado em 2014 e esteja funcionando há cerca de um ano. Os governos da zona do euro precisam intervir e adicionar certo poder de fogo fiscal às iniciativas do BCE, como Draghi sempre pede que eles façam.

Então, está sendo desperdiçada uma excelente oportunidade de tomar emprestado o dinheiro mais barato da história para investir no crescimento europeu. Os custos ultrabaixos dos empréstimos disponíveis no mercado de títulos governamentais deveriam convencer os líderes da zona do euro a intervir e aliviar o fardo que o BCE está carregando sozinho.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial, da Bloomberg LP e de seus proprietários.