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Governo cede mais que o esperado, diz Lisboa

Josué Leonel

05/07/2016 15h22

(Bloomberg) -- "O governo está cedendo um pouco mais que o esperado", adverte Marcos Lisboa, presidente do Insper e ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda. Lisboa esperava que o governo tivesse mostrado maior "firmeza" nas negociações sobre o reajuste dos servidores e mais clareza de discurso.

Lisboa se diz "um pouco mais preocupado" do que os analistas do mercado em relação ao início do novo governo. O mercado tem dado um voto de confiança ao governo por entender que não há espaço para medidas mais duras antes da aprovação definitiva do impeachment, esperada para agosto. Lisboa, mesmo concordando que só a partir de agosto a situação ficará mais clara, considera que o governo poderia estar fazendo melhor.

Na questão do reajuste dos servidores, o ex-secretário avalia que o governo teria de ter sido mais duro nas negociações. Outro erro teria sido a postura após a aprovação do aumento. Para Lisboa, foi incorreto o discurso de que o reajuste já estava previsto e teria pouco impacto adicional no déficit. Pelo contrário, o governo teria de ter admitido que houve um custo fiscal e que medidas teriam de ser tomadas para cobrir o gasto, afirma.

O ex-secretário espera mais clareza e afinação entre o discurso e a prática do governo de Michel Temer. "O governo tem sinalizado que quer enfrentar o problema fiscal, mas por outro lado tem cedido em acordos que vão na contramão do ajuste".

O adiamento da alta dos juros nos Estados Unidos pode dar algum tempo ao Brasil para fazer o ajuste antes que as condições externas de financiamento fiquem mais apertadas. É uma "janela de oportunidade" que o país precisa aproveitar, diz Lisboa. Se o Brasil não enfrentar o déficit fiscal a crise pode voltar pior do que estava antes do início do novo governo, com risco de retomada da aceleração da inflação, afirma ele.

Embora tenha uma visão crítica sobre o início do novo governo, Lisboa admite que houve uma mudança importante em termos de discurso e de qualidade da equipe econômica. O governo anterior, diz o ex-secretário, não apenas gerou o problema do déficit fiscal como adotou medidas para mascarar o problema, como incentivar o endividamento dos estados.

Lisboa considera que a proposta de teto para os gastos públicos será importante, mas não suficiente para o ajuste fiscal. "O teto é um primeiro passo, mas não será suficiente sem reformas como a da Previdência". O país terá de passar do déficit para o superávit nos próximos anos e fazer isso cortando gastos, sem aumentar impostos, diz Lisboa. Sem isso, diz o economista, voltará a discussão sobre a "sustentabilidade" da dívida pública.

Para entrar em contato com o repórter: Josué Leonel em São Paulo, jleonel@bloomberg.net, Para entrar em contato com os editores responsáveis: Telma Marotto tmarotto1@bloomberg.net, Adriana Arai aarai1@bloomberg.net.

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