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Sabonete e creme dental ajudam a calcular crescimento da Índia

Rajhkumar K Shaaw, Santanu Chakraborty e Nupur Acharya

05/07/2016 14h25

(Bloomberg) -- Para o maior gestor de fundos da Índia, S. Naren, há melhores formas de medir o crescimento econômico do que a tão criticada estimativa do PIB do país.

Naren afirma que ele recorre aos dados de despesas com sabonete e creme dental, viagens e uso de eletricidade para decidir onde investir os US$ 29 bilhões em ativos da ICICI Prudential Asset Management.

O crescimento de dois dígitos da demanda por diversos produtos, do combustível aos aparelhos de ar-condicionado, significa que ele não se preocupa se os dados do PIB exagerem a força da economia. Apenas o aumento dos preços do petróleo ou uma monção abaixo do normal poderiam descarrilar suas apostas otimistas nas empresas de eletricidade e nas companhias financeiras, disse ele.

"Não sou economista, então não entendo os números do PIB", disse Naren, diretor executivo e diretor de investimento da ICICI Prudential, em entrevista em Mumbai. "Eu usaria coisas como a demanda por carvão e energia, as vendas de motocicletas e o crescimento do volume em áreas como creme dental, sabonete e detergente. Essas áreas podem ver um enorme crescimento, deixando de lado os números do PIB".

A dúvida em relação aos dados do crescimento da Índia significa que outros indicadores da atividade econômica estão se tornando mais importantes para os investidores que tentam medir o sucesso do país na tentativa de se afastar da desaceleração na China e na Europa.

O diretor de mercados emergentes do Morgan Stanley Investment Management, Ruchir Sharma, disse na sexta-feira que é provável que a Índia tenha crescido de 5% a 6 por cento, muito menos que os 7,6% publicados pelo governo.

O ICICI Prudential Value Discovery Fund subiu 20% anualmente nos cinco anos até junho, superando 95 por cento de seus pares. É mais que o ganho anual de 14% do Nifty Midcap Index durante esse período.

O fundo tinha investido cerca de 30% de seus ativos de 132,1 bilhões de rúpias (US$ 2 bilhões) em bancos, empresas de engenharia e fabricantes de medicamentos até 30 de junho, mostram dados compilados pela agência de notícias Bloomberg.

A demanda por combustível na Índia aumentou 11% no ano terminado em março, o ritmo mais acelerado desde pelo menos o ano fiscal de 2001, e as viagens aéreas cresceram 23 por cento nos cinco primeiros meses deste ano, segundo dados oficiais.

Novo cálculo

Os números gerais da Índia confundiram os investidores desde que o departamento de estatística do governo modificou seu método para calcular o PIB em janeiro de 2015.

O novo cálculo utiliza os preços do mercado, em vez dos custos de fatores, e um conjunto de dados que inclui relatórios de centenas de milhares de empresas menores e órgãos do governo.

A modificação da fórmula fez com que o crescimento anual subisse de 5%, mínimo em quase uma década, para cerca de 7% praticamente da noite para o dia.

"Mais de um ano passou e cada vez mais pessoas chegam à conclusão de que há algo errado com esse método", disse Sharma, do Morgan Stanley Investment, autor do livro "The Rise and Fall of Nations". O novo método "piorou as coisas em termos de credibilidade".

Mesmo assim, a Índia tem um "crescimento bom e sólido", disse Sharma, projetando um "caminho de aceleração constante" para a economia.