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Ameaças de Maduro não impedem que empresas abandonem Venezuela

Nathan Crooks

14/07/2016 13h20

(Bloomberg) -- As multinacionais que permaneceram na Venezuela durante mais de uma década de estatizações, escassez de dólares e prejuízos, tomaram essa decisão com a expectativa de que as coisas acabariam melhorando no país, rico em petróleo. Agora, até mesmo esse grupo mais resistente está jogando a toalha em meio à implosão da economia local.

A Kimberly-Clark, fabricante das marcas Kleenex e Huggies, anunciou em 9 de julho a suspensão de suas operações no país sul-americano. Nos dois meses anteriores, a Latam Airlines, maior empresa aérea da América Latina, a Deutsche Lufthansa e o Grupo Aeromexico disseram que deixariam de voar para a Venezuela. A General Mills e a Bridgestone também informaram sua retirada no início do ano.

Os anúncios mostram a que ponto chegou a situação no país, que possui as maiores reservas de petróleo do mundo e chegou a ser uma das nações mais ricas do planeta. Essas empresas provavelmente não conseguirão retornar tão cedo para o país de 30 milhões de habitantes e algumas perderão muitos de seus ativos.

O presidente Nicolás Maduro mostrou um humor implacável na noite de terça-feira, quando chamou as empresas que mais recentemente encerraram ou reduziram suas operações na Venezuela de "bandidas" e acusou-as de estarem acatando ordens do governo dos EUA.

"Deixar a Venezuela não é uma decisão fácil porque o mercado venezuelano tem muito potencial", disse Henkel Garcia, diretor da consultoria Econométrica, com sede em Caracas, em entrevista por telefone. "Muitas empresas estão operando com prejuízo para tentar continuar adiando essa decisão o máximo possível devido à importância desse mercado".

A Kimberly-Clark citou uma "persistente deterioração" das condições econômicas e comerciais da Venezuela para sua decisão de deixar o país em meio à inflação alta e à contração econômica.

Cortar laços

O preço de sair da Venezuela não poderia ser mais claro.

Qualquer fábrica que estiver "abandonada será recuperada", disse Maduro, apoiando a tomada das instalações da Kimberly-Clark pelos trabalhadores. O governo promoveu a mesma resposta quando a Clorox anunciou que estava fechando as portas, em 2014. Naquele mesmo ano, Maduro alertou que as empresas aéreas que deixaram o país não teriam permissão para retornar.

O Citigroup também anunciou nesta semana a redução de algumas operações na Venezuela, encerrando o chamado correspondente bancário com o banco central e com outros clientes privados.

Embora a empresa tenha salientado em seguida que não está se retirando do país, Maduro foi igualmente veloz para protestar. A decisão do Citigroup fez parte de um "bloqueio financeiro", disse ele.

"Estamos no momento avaliando todas as medidas legais contra todos esses bandidos", disse Maduro, na noite de terça-feira, em referência à Kimberly-Clark e ao Citigroup.

"Vocês acham que duas empresas, uma industrial e outra que é uma das maiores empresas financeiras, agiriam sem receber ordens e a aprovação do governo dos EUA?".

Um porta-voz do Citi disse que a decisão não teve motivação política e que o banco adotou uma ação similar em outros países no início deste ano.

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New York Times