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"Truques" perdem a graça e gestoras ativas tropeçam nos EUA

Dani Burger

15/07/2016 15h27

(Bloomberg) -- Ferramentas antes confiáveis das gestoras de recursos de perfil ativo estão perdendo potência à medida que a fase de alta das bolsas americanas se prolonga. Com isso, os fundos mútuos estão amargando suas piores taxas relativas de retorno até hoje.

A conclusão é de estrategistas do Bank of America Corp., que descobriram que a seleção de ações baseada em fatores como recompra de ações, aquisições e ativismo não funcionaram no primeiro semestre de 2016. A dependência excessiva desses fatores agravou um período já ruim para essas gestoras. De acordo com a pesquisa, somente 18 por cento delas conseguiram superar o índice Russell 1000 até 30 de junho.

É a pior taxa de sucesso desde pelo menos 2003, segundo o estudo. Trata-se de uma das consequências de se investir na segunda fase mais longa de alta das bolsas americanas. Táticas como pressionar a direção das empresas e forçar o desmembramento de operações funcionaram no passado, mas não agora.

"Esses fatores agora estão destruindo valor", escreveu Savita Subramanian, responsável por estratégia quantitativa de renda fixa e variável nos EUA do Bank of America, em relatório enviado a clientes na quarta-feira. "Os investidores ficaram menos enamorados de oportunidades motivadas por catalisadores e estão mais preocupados com balanços patrimoniais e querendo ver crescimento orgânico."

As ações de empresas responsáveis pelos maiores volumes de recompras apresentaram queda de 2,3 por cento no primeiro semestre, enquanto uma versão do S&P 500 de mesma ponderação avançou 4,7 por cento, de acordo com monitoramento do Bank of America. É o pior desempenho relativo desde pelo menos 2011 e o terceiro ano seguido no qual as companhias que fazem mais recompras de ações ficam para trás.

Da mesma forma, quanto mais os acionistas se meteram nos assuntos das empresas, menos funcionou. As componentes do S&P 500 com acionistas ativistas perderam 5,3 pontos percentuais a mais do que o mercado como um todo no ano passado, segundo os dados do Bank of America. Comparativamente, em 2012, a estratégia funcionava e proporcionou retorno adicional de 52 pontos percentuais.

O sucesso no começo foi uma anomalia e não a regra, na visão de Jill Hall, uma estrategista de renda variável do Bank of America.

Historicamente, táticas como a compra de ações de empresas que realizam recompras ou enfrentam pressão dos acionistas raramente produzem retorno consistentemente superior. Em 2011, por exemplo, um índice de empresas desmembradas compilado pela Bloomberg sofreu queda de 6,2 por cento, enquanto o S&P 500 ficou inalterado.

Com o crédito abundante após a crise financeira, grandes operações e devolução de dinheiro aos acionistas traziam ganhos. Por exemplo, as componentes do Russell 1000 que concluíram qualquer tipo de aquisição superaram o índice todos os anos entre 2012 e 2015, quando houve a volta à normalidade, de acordo com Hall. No ano passado, as compradoras tiveram desempenho 0,4 ponto percentual pior. Os investidores não se encantam mais com táticas que tentam se sobrepor à expansão dos lucros.

"Em um ambiente de crescimento escasso das receitas, muitas companhias estão lançando mão do que eu considero truques financeiros para tentar elevar os lucros por ação", disse Alan Gayle, um estrategista sênior da RidgeWorth Investments, em Atlanta. "Essas ideias só funcionam por algum tempo e acho que os investidores estão buscando empresas capazes de executar crescimento orgânico."