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Análise: Saída do Citigroup da Turquia parece fazer mais sentido

Lionel Laurent

18/07/2016 15h24

(Bloomberg) -- O setor financeiro da Turquia está sob pressão após a tentativa de golpe deste fim de semana. É cedo demais para medir o impacto econômico -- mas os analistas já alertam para a ameaça dos custos de financiamento mais elevados, da volatilidade cambial e de prejuízos com empréstimos dos bancos do país.

Isto significa problemas para os bancos europeus que apostam alto nas perspectivas de crescimento da Turquia -- e justifica a decisão do Citigroup de sair com prejuízo em 2015.

Na teoria, a Turquia deveria ser um mercado atraente para os bancos internacionais: a economia e a população estão crescendo, a demanda por crédito está aumentando e o país trilha um caminho que poderia levá-lo a entrar na União Europeia.

Na prática, os lucros têm sido difíceis de obter. Em 2014, a unidade turca do HSBC amargou um prejuízo maior do que todos os outros 46 bancos do país, segundo a Bloomberg News. A fragilidade cambial atingiu até mesmo os maiores bancos, como o espanhol BBVA, que no ano passado realizou baixa contábil de cerca de 1,8 bilhão de euros (US$ 2 bilhões) de seu investimento no Garanti -- um dos maiores bancos da Turquia -- devido à queda da lira.

Até o momento, a maior parte dos bancos mantém suas operações turcas. A demanda por esses ativos é limitada e o custo de uma saída apressada tem parecido alto.

Em fevereiro, o HSBC decidiu manter sua operação turca e reduzi-la por não conseguir um comprador. O italiano UniCredit vem estudando a venda de sua participação no Yapi Kredit Bank, reportou Sonia Sirletti, da Bloomberg News, em maio.

Em contrapartida, o BBVA dobrou a aposta no país, ampliando sua participação no Garanti para 39 por cento no ano passado. O banco estima que a aquisição ampliará o lucro em mais de 250 milhões de euros neste ano. Isto ainda não é impossível, considerando que o lucro do banco na Turquia foi de 133 milhões de euros no primeiro trimestre -- maior do que o ganho total nos EUA.

Mas as sequelas do golpe fracassado poderão justificar aqueles que resolveram recuar em suas apostas turcas, como o Citigroup. O banco dos EUA vendeu sua participação no Akbank em etapas após realizar uma baixa contábil de US$ 1,2 bilhão nos ativos em 2012.

Os bancos do país estão enfrentando uma influência política maior. Na segunda-feira, o presidente Recep Tayyip Erdogan interrompeu as operações do Bank Asya, banco islâmico ligado a seu inimigo político exilado, o pastor Fethullah Gulen.

Existe também o risco de que haja mais volatilidade cambial, o que é uma ameaça para uma economia que depende do investimento estrangeiro para financiar o déficit em conta corrente. Embora a lira já tenha recuperado quase metade dos prejuízos de sexta-feira para cá, o Goldman Sachs reduziu sua projeção de três meses para a moeda em relação ao dólar. Isto poderia ser um problema para os tomadores de empréstimos turcos com créditos denominados em outras moedas: esses empréstimos respondem por cerca de 42 por cento do total de US$ 402 bilhões em empréstimos corporativos dos bancos turcos, segundo a Bloomberg Intelligence.

Além disso, o crescimento rápido do crédito deixou os bancos turcos mais dependentes do financiamento no atacado -- e, portanto, mais vulneráveis a mudanças bruscas do sentimento do investidor, segundo a Fitch. As taxas de empréstimo/depósito subiram para 117 por cento, contra 60 por cento entre 2005 e 2015, segundo pesquisa do BBVA, com um aumento da dependência do financiamentos de curto prazo do exterior nos últimos anos.

Será que o BBVA e o UniCredit interromperão as operações e sairão do país? É improvável por enquanto. Mas se a perspectiva econômica piorar, o recuo do Citigroup pode acabar parecendo cada vez mais oportuno -- independente do custo.

Essa coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.