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Estímulos do BCE revelam dúvidas sobre economia

Jeff Black

20/07/2016 14h51

(Bloomberg) -- A flexibilização quantitativa (QE) de Mario Draghi pode até parecer uma coisa exata; a economia subjacente é tudo menos isso.

Duas observações feitas recentemente pelo Banco Central Europeu sobre produção e emprego destacam como a política monetária é longe de ser uma ciência exata, fato que destaca o desafio enfrentado pelo presidente da instituição e seus colegas na reunião de dois dias que começa na quarta-feira. Na avaliação das estratégias focadas para impulsionar a frágil taxa de inflação da zona do euro, eles têm que medir a economia - e esse é o problema.

Tudo começa com um artigo acadêmico publicado no dia 1º de julho pelos pesquisadores Marek Jarocinski e Michele Lenza sobre o tamanho do hiato do produto do bloco monetário de 19 países - ou a capacidade excedente na economia.

A conclusão de que o hiato poderia chegar a ser de -6% do potencial produto interno bruto, comparada com estimativas típicas mais perto de 2%, sugere que até mesmo os 80 bilhões de euros (US$ 88 bilhões) por mês gastos pelo BCE em estímulo não são nem de longe suficientes.

"Se você realmente acreditar que o hiato do produto é de -6 por cento, então era para ter usado tudo que possa ser concebido contra isso há muito tempo", disse Richard Barwell, economista sênior da BNP Paribas Investment Partners em Londres.

"Não há certezas quanto a essas coisas. Se você não sabe genuinamente, é possível tentar muitas coisas e corrigir depois. Se muito pouco for feito e o problema for tão grande assim, então você está em um mundo terrível".

Divergências

O fato de o BCE ser capaz de admitir livremente a divergência de opiniões nas próprias filas quanto a um problema econômico tão prioritário destaca o apuro para as autoridades: eles não têm certeza do que está acontecendo, mas têm de implementar políticas de qualquer forma.

Deduzir o nível de folga restante é uma forma de saber quando injetar apoio monetário e quando diminuí-lo novamente. Outra forma é fazer estimativas conjeturais de quão longe a economia está do pleno emprego prático, sendo que a inflação deveria subir a partir desse ponto. Se esses raciocínios estiverem errados, poderia haver muita, ou muito pouca, inflação.

Nairu

Portanto, não ajuda que a segunda bomba de incerteza lançada pelo BCE trate da taxa de desemprego que não acelera a inflação (Nairu, na sigla em inglês), o nível de desemprego no qual a inflação se mantém constante.

A ata da reunião de junho, publicada neste mês, mostrou que o Conselho do BCE discutiu a possibilidade de que a taxa pudesse ser muito mais baixa do que se pensava anteriormente por causa das reformas do mercado de trabalho empreendidas por países como a Espanha.

Nenhum integrante de banco central de respeito diria que pode definir com precisão quanto é a NAIRU, mas a maioria pressuporia que na zona do euro ela não é muito mais baixa do que a atual taxa de desemprego de 10,1%.

Os economistas da Bloomberg Maxime Sbaihi e Jamie Murray calcularam uma NAIRU de cerca de 9 por cento para a Alemanha, França, Itália e Espanha, mas também é difícil contabilizar mudanças estruturais nessas economias.

"A ideia de conseguir administrar a economia europeia olhando para as medidas agregadas é problemática", disse James Nixon, diretor de projeções macroeconômicas da Oxford Economics Ltd. em Londres. "Na verdade, as divergências cresceram".