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Para investidor habituado a risco político, é hora de emergentes

Andrea Wong, Oliver Renick e Natasha Doff

21/07/2016 13h02

(Bloomberg) -- Digamos que no início do ano você já sabia qual seria o resultado do referendo sobre a separação do Reino Unido da UE e que Donald Trump seria candidato à presidência dos EUA. Digamos que você também tinha previsto a rebelião militar na Turquia, a queda da presidente brasileira e o terrorismo em Bruxelas e em Nice.

Onde você teria dito que os mercados estariam no dia 21 de julho? Você teria apostado que o S&P 500 Index registraria um recorde, que o rendimento da dívida corporativa mundial estaria perto do menor nível em um ano ou que as moedas do mercado emergente estariam 8 por cento acima das mínimas registradas em janeiro?

Esta é a situação dos analistas, que acertaram em grande parte a previsão de que 2016 seria um ano marcado pelo aumento do risco político.

O problema é que as projeções corretas erraram bastante em relação aos mercados, mais um exemplo de que é quase impossível fazer previsões de preços exatas em um mundo dominado por estímulos dos bancos centrais, yields de dívida abaixo de zero e crescimento econômico morno.

"Provavelmente você teria se saído pior se soubesse os resultados antes da hora", disse Bill Stone, diretor de estratégia de investimento da PNC Wealth Management na Filadélfia, em entrevista por telefone. "Os acontecimentos recentes ilustram a futilidade de tentar tomar decisões de investimento com base nos resultados geopolíticos".

Os estímulos monetários, dos cortes dos juros às compras de dívida que incharam o balanço de grandes bancos centrais em US$ 7,2 trilhões desde 2009, estimularam os ativos de risco desde a crise financeira e mantiveram as economias à tona, embora principalmente à deriva.

As autoridades monetárias demonstraram a maior generosidade possível no rescaldo dos dramas políticos deste ano. Como resultado, os mercados se tornaram ainda mais misteriosos quando analisados de acordo com os modelos tradicionais de investimento.

Um exemplo são as ações dos EUA, cujas avaliações na semana passada subiram para mais de 20 vezes os lucros pela primeira vez em sete anos. Os lucros não estão aumentando, as recompras e aquisições estão sossegando. No entanto, com o Brexit, o ataque em Nice e o golpe fracassado na Turquia como pano de fundo, o S&P 500 registrou alta em três semanas consecutivas e fechou em recorde pela primeira vez em 13 meses.

Uma das razões da alta é que a economia dos EUA se recusa a cair em recessão. Outra é o condicionamento. Desde a crise financeira, a especulação sobre declínios prolongados simplesmente não compensou, graças em parte à disposição dos bancos centrais a estancar perdas.

Malabarismos

Um grupo que está acostumado com o risco político é o daqueles que investem no mercado emergente.

Eles passaram os últimos dois anos fazendo malabarismos com a queda de preço do petróleo, os escândalos de corrupção no Brasil e as disputas da Rússia com a Ucrânia e a Turquia. Suas ações refletem isso: o índice de mercado emergente do MSCI avançou cerca de 10 por cento em 2016.

Para eles, 2016 é um ano normal. Na verdade, alguns investidores apostam que as ações e os papéis do mercado em desenvolvimento serão os mais resilientes às consequências do Brexit e à volatilidade em torno da eleição dos EUA, especulando que os países industrializados manterão os juros baixos.

Mais de US$ 18 bilhões foram injetados nos mercados emergentes após o Brexit, de acordo com uma nota de pesquisa publicada pelo Goldman Sachs Group na terça-feira.