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Para otimistas com iene, Fed supera debate sobre estímulo de BOJ

Chikako Mogi e Hiroko Komiya

22/07/2016 15h39

(Bloomberg) -- Estrategistas que projetam o primeiro ganho anual do iene desde 2011 estão mantendo essa opinião mesmo com a desvalorização provocada por especulações de que o Banco do Japão vai expandir os estímulos já sem precedentes.

O iene continua sendo a moeda importante de melhor desempenho neste ano, mesmo após o tombo de 2,4 por cento neste mês. Na semana passada, a visita do ex-presidente do banco central americano Ben S. Bernanke a Tóquio alimentou especulações de que a autoridade monetária japonesa financiaria diretamente a dívida pública, usando uma política conhecida como dinheiro de helicóptero. Na quinta-feira, o iene avançou para o maior nível em quase um mês após a BBC Radio 4 transmitir uma entrevista gravada em 17 de junho com o comandante do Banco do Japão, Haruhiko Kuroda, na qual ele afirmou não haver necessidade nem possibilidade de introduzir tal política.

"O dinheiro de helicóptero -- que foi alvo de debate público, mas ninguém esclareceu sua definição -- foi usado meramente como desculpa para esfriar a compra especulativa de ienes", disse Daisuke Karakama, economista-chefe de mercados do Mizuho Bank Ltd., em Tóquio. "O foco do mercado agora voltará aos fundamentos e à política monetária, confirmando a tendência de apreciação do iene."

Perspectiva para o Fed

Especulações de que o Japão ganhará novos estímulos fiscais e monetários levaram muitos investidores a colocar o foco na reunião do banco central errado na semana que vem, na opinião do Deutsche Bank AG e do Mizuho. A sinalização do banco central americano (Federal Reserve) em 27 de julho sobre os juros nos EUA pode ter mais impacto sobre o iene no longo prazo do que qualquer expansão de estímulos pela autoridade monetária japonesa. Além disso, há quem diga que as políticas de Kuroda já equivalem a dinheiro de helicóptero.

As projeções de analistas colocam a taxa de câmbio em 105 ienes por dólar no fim do ano. Os mercados de opções indicam que as expectativas de valorização do iene permanecem próximas do recorde estabelecido em 2011.

Na entrevista à BBC Radio 4, Kuroda repetiu que está empenhado em acabar com a mentalidade deflacionária do Japão e que não existem limitações significativas a mais afrouxamento monetário.

"A ideia básica do dinheiro de helicóptero é combinar política fiscal com política monetária", ele disse. "Em países desenvolvidos, a política fiscal basicamente é decidida pelo governo e pelo congresso, enquanto a política monetária é decidida e implementada pelo banco central, que é independente do governo. Por isso, neste estágio, não acho que devemos abandonar esta situação institucional - não há necessidade e não há possibilidade para o dinheiro de helicóptero."

Deutsche Bank otimista

Para o Deutsche Bank, o quarto maior do mundo na negociação de moedas, a falta de consenso no mercado sobre uma elevação de juros pelo Fed neste ano significa que o iene tem mais espaço para se fortalecer do que para recuar. A chance de a moeda japonesa se apreciar e romper a barreira de 100 ienes por dólar nos próximos meses é maior do que a chance de desvalorização para mais de 110, de acordo com Taisuke Tanaka, estrategista-chefe de câmbio e responsável por pesquisa de renda fixa do banco em Tóquio. Ele calcula que a taxa de câmbio terminará setembro em 97 e o ano em 94 ienes por dólar.

"Se o Banco de Japão reforçar o dinheiro de helicóptero de fato quando as expectativas de aumento de juros nos EUA em setembro ou dezembro se intensificarem, o iene pode cair mais", disse Tanaka na semana passada. "Mas se as expectativas de elevação recuarem, a fraqueza do dólar vai prevalecer e a fraqueza do iene não será sustentável."

O Mizuho Bank, terceiro maior do Japão, afirma que a taxa de câmbio pode avançar na direção de 90 ienes por dólar, à medida que a recuperação do superávit em conta corrente sustenta a demanda pela moeda.