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Ano ruim ficou pior ainda para gestores de perfil ativo nos EUA

Dani Burger

28/07/2016 15h18

(Bloomberg) -- O mercado acionário talvez esteja complicado demais para os gestores de recursos comuns.

Fundos de perfil ativo estão enfrentando dificuldades em 2016: a parcela de instituições que conseguiram superar suas referências encolheu para menos de 25%, em um dos piores desempenhos já vistos.

O dinheiro está saindo desses fundos a uma velocidade sem precedentes e entrando em fundos de índices e fundos negociados em bolsa (os chamados ETFs), nos quais a seleção de ações é neutralizada.

De acordo com analistas da Nomura Securities, um ano já ruim ficou pior porque os gestores de perfil ativo foram especialmente desastrados na vigilância de características secundárias das ações que escolheram, que tinham potencial de alterar as taxas de retorno, como saldos elevados de caixa ou cobertura de analistas.

A Nomura se junta ao coro que afirma que o setor precisa colocar o foco nessas características --ou fatores, no jargão dos investidores quantitativos - para reverter anos de desempenho inferior.

"É indesculpável não prestar atenção às apostas em fatores", disse Benjamin Dunn, presidente da Alpha Theory Advisors, que trabalha com hedge funds que supervisionam cerca de US$ 6 bilhões. "Se determinado risco pode ser medido e comentado, pelo menos deve haver uma razão para a decisão de assumir esse risco."

Processos quantitativos andam se sobressaindo ultimamente. Steven A. Cohen, da Point72, está alocando até US$ 250 milhões para gestão por uma plataforma online com cinco anos de vida, que permite aos integrantes construir modelos de negociação e receber uma fatia dos lucros.

A Third Point LLC, de Daniel S. Loeb, afirmou em carta aos investidores na terça-feira que o risco de fatores está por trás do desempenho inferior dos hedge funds neste ano.

Explicações

Há explicações simples e complicadas que decidem se um fundo vai bem ou mau. A explicação simples é que os fundos mútuos penaram no primeiro semestre porque se concentravam em ações que caíram e não prestigiaram outras que subiram.

Os gestores humanos estavam notoriamente concentrados em ações de empresas de tecnologia com valor de mercado gigantesco e estavam com poucas ações de companhias energéticas em carteira. Essas escolhas azedaram quando a cotação do petróleo se recuperou e papéis de empresas como Netflix derraparam.

Com viés matemático, os processos quantitativos têm abordagem mais analítica e buscam erros sutis e ocultos que provocam o fracasso das escolhas de ações. Um desses processos é a atribuição de fatores, que compara lucros, múltiplos ou características de preços de um grupo de ações com o que funcionou no mercado durante determinado período.

Por exemplo, um gestor de fundos se encanta com o aspecto de valor e passa a comprar ações negociadas com desconto em relação aos lucros. Na pressa de comprar ações baratas, leva inadvertidamente empresas com balanço patrimonial fraco. Essa escolha de repente se prova errada se o mercado se vira contra empresas com finanças instáveis.

"A escolha de ações é importante --às vezes mais, às vezes menos. Mas exposições erradas a fatores podem prejudicar a escolha de ações", disse Joseph Mezrich, diretor-gerente da Nomura. "É bastante improvável que os gestores conheçam todas as exposições a fatores indesejadas em suas carteiras."

De acordo com a Nomura, fundos mútuos de perfil ativo cometeram catastróficos erros de fatores no primeiro semestre de 2016. Gestores voltados para crescimento detinham ações para as quais os orçamentos de pesquisa eram especialmente grandes, e essas ações foram detonadas pelo mercado no primeiro trimestre. Os gestores compraram ações de empresas com saldo elevado de caixa no primeiro semestre e essas ações caíram 18%.