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Análise: BC dos EUA atende às expectativas, com uma ressalva

Mohamed El-Erian

28/07/2016 14h43

(Bloomberg) -- Como era esperado por muitos, as autoridades do Federal Reserve se abstiveram de adotar novas medidas na conclusão de sua reunião de dois dias, na quarta-feira. Mas foram um pouco além do comunicado um tanto insípido que a maioria dos participantes do mercado esperava.

Como acontecimentos mais positivos na economia dos EUA, incluindo um mercado de trabalho "fortalecido" depois de uma queda em maio, continuam enfrentando forças contrárias provenientes de um contexto internacional mais fraco, o Fed não viu uma necessidade imediata de elevar as taxas de juros.

Mais notório, as autoridades observaram que os "riscos iminentes ao panorama econômico diminuíram", uma declaração que foi um pouco mais forte do que as expectativas do consenso.

No entanto, é interessante notar que este comentário não provocou --pelo menos, não ainda-- o aumento imediato das taxas de juros do mercado, como eu sugeri que poderia acontecer.

O que ficou menos claro no comunicado --embora possa se tornar mais evidente quando as atas da reunião foram publicadas, em poucas semanas --é o conjunto de fatores específicos que as autoridades do Fed estão levando em consideração ao tomar decisões difíceis em relação a diversos trade-off complexos: entre a relativa força da economia nacional e a fraqueza internacional; entre a contenção da volatilidade financeira iminente e o risco de maior instabilidade financeira no futuro; e entre um freio cauteloso às taxas e um aumento agora a fim de gerar espaço para respostas futuras da política se a atividade econômica nacional cair em um buraco.

Quando se trata desses trade-offs complicados, desconfio que as autoridades do Fed também estarão muito atentas a outros bancos centrais com importância sistêmica. Nenhum deles enfrenta um desafio de política econômica maior que o Banco do Japão, cuja reunião de dois dias começa nesta quinta-feira em meio a expectativas maiores de estímulo adicional.

Em duas ocasiões prévias neste ano, o Banco do Japão viu os mercados reagirem de modos inesperados e perversos a seus anúncios de política econômica, inclusive elevando significativamente a moeda quando o banco central levou as taxas nominais para abaixo de zero inesperadamente.

Desta vez, as autoridades do BOJ talvez se sintam um pouco melhor em relação a suas perspectivas políticas agora que o governo fortaleceu sua maioria parlamentar e o primeiro-ministro Shinzo Abe está mais animado a avançar com estímulo fiscal e reformas estruturais.

Seja para o Fed, para o Banco do Japão ou para vários outros bancos centrais, a principal questão continua sendo a mesma.

Quase oito anos depois do auge da crise financeira mundial, o mundo continua dependendo excessivamente dos bancos centrais para fomentar um alto nível de crescimento inclusivo e garantir uma estabilidade financeira verdadeira.

Quanto mais isso persistir, menos provável será que os resultados desejados se materializem. Enquanto isso, os riscos à credibilidade da política econômica dos bancos centrais aumentarão, assim como as ameaças à autoridade política deles; e o alcance dos danos colaterais e das consequências imprevistas será significativo.

Há muito tempo é hora de os governos deixarem de depender excessivamente dos bancos centrais e passem a dar uma resposta política que combine uma administração mais abrangente da demanda com reformas estruturais favoráveis ao crescimento, a eliminação de áreas de endividamento excessivo e uma melhor coordenação da política regional/global.

Quanto mais essa transição for adiada, maior será o risco de que outros bancos centrais, assim como aconteceu com o BOJ, vejam que suas políticas se tornaram muito menos eficazes, se não ineficazes ou até mesmo contraproducentes.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial nem da Bloomberg LP e de seus proprietários.