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Regaste bancário na Itália pode prejudicar pequenos investidores

Luca Casiraghi e Tom Beardsworth

28/07/2016 16h17

(Bloomberg) -- Vincenzo Imperatore quer que você saiba que ele estava apenas cumprindo ordens: vender títulos de alto risco a clientes que buscavam um pé-de-meia para a aposentadoria era parte de seu trabalho. Quando os mercados financeiros fecharam durante a crise financeira, os depositantes foram a fonte de financiamento mais confiável dos bancos italianos.

"Eu recebia cinco ou seis ligações por dia dos meus chefes, que me pressionavam para vender esses títulos", disse Imperatore. Ele ajudou a vender produtos a clientes do varejo durante seis anos no UniCredit na região de Nápoles e escreveu dois livros contando tudo sobre sua experiência. "Eu instruía os vendedores locais a fazerem a mesma coisa".

As famílias que ajudaram a amparar os bancos do país durante a crise voltaram à linha de frente das iniciativas para fortalecer o cambaleante sistema financeiro da Itália. A dívida subordinada que possuem pode ser a primeira a sofrer perdas em uma recapitalização orquestrada pelo governo que está sendo negociada atualmente em Roma e em Bruxelas. Este resultado que arrasaria sua popularidade é o que o primeiro-ministro Matteo Renzi está tentando impedir antes de um referendo, que acontecerá no fim deste ano, sobre a reforma do sistema político -- um voto que ele precisa ganhar para continuar no poder.

Dívida de alto risco

A estabilidade dos bancos italianos tem sido uma questão prioritária para os responsáveis pela política econômica desde os primeiros tremores da crise financeira mundial, mas o resultado de testes de estresse na sexta-feira poderia dar início à etapa final para resolver essa difícil situação. Os pequenos investidores possuem quase metade dos títulos mais vulneráveis, uma herança dos bancos que usam seus clientes como um cofrinho para financiamento barato.

Vender dívida subordinada aos depositantes era "o modo de eles recapitalizarem o sistema bancário", de acordo com Jim Millstein, a autoridade do Tesouro dos EUA que conduziu a reestruturação dos bancos americanos depois da crise financeira, em entrevista à Bloomberg TV. Ao impor prejuízos aos detentores de títulos "você inflige danos às pessoas que, de outro modo, estariam gastando dinheiro em sua economia", disse ele.

Esta não seria a primeira vez que as famílias italianas são prejudicadas na busca por retornos. Cerca de 450.000 poupadores perderam dinheiro com o calote da Argentina em 2001 e 100.000 no colapso da Parmalat dois anos depois.

Esse drama já puniu os investidores de quatro bancos pequenos com prejuízos em sua dívida júnior.

Em dezembro, a Comissão Europeia apoiou os planos de Renzi de compensar os detentores de títulos pela "possível venda indevida de títulos". O governo aprovou um decreto em abril para permitir que detentores de títulos dos quatro bancos insolventes sejam reembolsados por até 80 por cento de seus ativos se tiverem uma renda bruta anual inferior a 35.000 euros ou ativos pessoais de menos de 100.000 euros.

"É notavelmente similar ao que os bancos fizeram antes com a Argentina e com a Parmalat", disse Floro Bisello, advogado que representa diversos pequenos detentores de títulos e ações dos bancos insolventes. "Muitos dos meus clientes são operários, pensionistas, que perderam todas as economias que tinham. Alguns deles foram informados de que investir em títulos subordinados dos bancos era apenas um modo de obter juros mais altos e tão seguro quanto investir em títulos do governo italiano".